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As novas indústrias tendem a ser mais eficientes em termos de trabalho: simplesmente não exigem muitas pessoas. É precisamente por esta razão que o historiador económico Robert Skidelsky diz: “Mais cedo ou mais tarde, vamos ficar sem emprego“.
O caminho para uma sociedade sem trabalho vem a ser trilhado há décadas. Sem trabalho não quer dizer que subitamente ficamos todos sem emprego: significa que a economia funciona melhor — de facto, cada vez melhor — com cada vez menos necessidade de horas-homem, substituídas na maior parte por automatismos, sejam robôs industriais ou (crescentemente) software.
Efeitos práticos e imediatos: a diminuição dos horários de trabalho. Mesmo quando governos querem punir trabalhadores aumentando os horários, na realidade o que sucede é que os que têm emprego são sujeitos a maior carga mas na generalidade o problema do (des)emprego não ficou melhor: piorou.
A tecnologia cria alguns postos de trabalho, mas a sua capacidade criadora é facilmente exagerada. Nove em cada 10 trabalhadores de hoje estão em ocupações que existiam há 100 anos e apenas 5 por cento dos empregos gerados entre 1993 e 2013 vieram de sectores tecnológicos como informática, software e telecomunicações.
A diminuição é gradual e inexorável. As crises aceleram-na e as retomas antigamente escondiam-na — a retoma em curso já não tem, sequer, a capacidade de máscara. A partir de algum ponto no futuro tenderá a desacelerar. Mas esse ponto está ainda longe.
Outro ponto se aproxima rapidamente: o ponto em que o assunto fará o seu percurso até ao centro do debate político. Ainda não é possível prevê-lo com melhor exatidão: mas faltarão poucos anos, não muito mais de uma década. Já chegou às margens.
As únicas políticas racionais são as que forem distribuindo o trabalho restante pelos trabalhadores disponíveis, legitimando nas leis o que na realidade já se passa no mercado de trabalho, com os horários cada vez mais voláteis e menores.
A alternativa a menores horários é a criação de um Rendimento Básico Incondicional — um assunto que está a começar a chegar à big media por força das primeiras experiências levadas a cabo em cidades e zonas específicas, em várias partes do mundo.
Em breve, teremos de nos debruçar sobre a falência da redistribuição baseada em impostos e contribuições do trabalho, se quisermos continuar a ter uma sociedade minimamente equilibrada.
(texto: Paulo Querido/Hoje)
Aprofundar
A World Without Work (Derek Thompson / The Atlantic): For centuries, experts have predicted that machines would make workers obsolete. That moment may finally be arriving. Could that be a good thing?
Our Paradoxical Economy Courtesy of Technology and the Lack of Basic Income (Scott Santens): The question of slowing productivity amidst rising automation. The latest numbers are in, and there are now more people not working in the US as a percentage of the total population, than ever in the last 38 years. It’s being called the “new normal.”