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A persistência de Tiago Vidal (e da sua equipa) trouxe até à GO Youth Conference nomes importantes do empreendedorismo internacional. Um deles é Dan Price, mais conhecido como o CEO que decidiu pagar 70 mil dólares de salário base por ano aos seus funcionários (o equivalente em euros é cerca de quatro mil euros por mês).
Tal como muitas histórias de empreendedores bem sucedidos nos EUA, o “era uma vez” de Dan Price começa num quarto da residência da sua universidade quando tinha 19 anos. Depois de os elementos da banda de rock a que pertencia se terem chateado (contou o próprio na sua palestra), o jovem norte-americano focou-se em resolver problemas reais. Assim nasceu a Gravity Payments, uma empresa de processamento de pagamentos de cartões de crédito, com sede em Seattle.
Longe dos holofotes que o meteram na capa da revista de empreendedorismo Inc., Price vem a Portugal com uma abertura habitual de um empreendedor a tentar vingar. Mas ele já vingou e gere milhões de dólares diariamente. Para perceber melhor a personalidade de Dan Price, fizemos-lhe parte do famoso questionário de Marcel Proust, na GO Youth Conference, que se realizou no final de Abril no LX Factory.
Qual é a tua melhor qualidade?
Acho que é a confiança, mas em duas vertentes. Uma é aprender a confiar, servir os outros e ajudar os outros a confiarem em ti, sendo honesto e transparente. A confiança é a qualidade da qual ganho mais na vida.
Qual é a tua principal caraterística?
Isso é difícil… Eu gostava que fosse ser feliz e divertido, mas acho que é ser muito focado. Espero que me torne mais focado na felicidade e menos focado a tentar conquistar alguma coisa em específico.
O que mais aprecias nos teus amigos?
(pausa] Aprecio que eles não queiram saber do “hype”. Eu posso estar por toda a media e os meus amigos continuam a ver-me como a mesma pessoa que está a tentar fazer o melhor que pode. A tentar fazer melhor. [Pensarem em mim como] apenas alguém para passar tempo e não pensarem em mais nada a não ser aproveitar o momento.
Qual é o teu hobby preferido?
Eu adoro surfing, snowboarding e futebol (europeu, não o americano). Eu não cresci a jogar futebol nem sabia nada sobre este desporto, mas quanto mais aprendo mais excitante o jogo fica para mim. Tenho estado atento ao Leicester City este ano. O meu jogador preferido é provavelmente o Kanté [N’Golo Kanté]. Ele está mais focado na defesa, mas é implacável e nunca desiste.
O que é felicidade para ti?
Não sei, ainda estou a aprender sobre isso… Mas sei que tentar ser a pessoa mais rica ou ter muitos luxos na vida provavelmente não me vai levar à felicidade no final. Se isso não funciona, eu acho que é bom por que assim podemos ser criativos e pensar em outras coisas que ajudam a gostar da vida.
Quem gostarias de ser, se não fosses tu mesmo?
[risos] Adoraria ser alguém que acorda e apenas vai para as montanhas fazer snowboarding, no inverno, e no verão surfar todos dias. Não sei ninguém em específico que tenha essa vida, mas seria bem divertido.
Onde gostarias de viver?
Seatlle é uma cidade fantástica. Existem tantos lugares magníficos… [pausa] Eu diria que estou bastante feliz em Seattle e nunca pensei em que outro lugar eu poderia viver.
Qual é o teu herói da vida real?
[longa pausa] Eu tenho um amigo que se chama Richard Galanti e ele é o chief financial officer (CFO) Costco. Eles provaram que se tratares melhor a tua equipa e se pensares nos teus clientes, podes ser mais bem sucedido.
De certa forma, é isto que Dan Price começou a seguir quando anunciou ao mundo que iria diminuir o seu salário e aumentar os seus funcionários. “ [A Costco] tem vindo a fazer isto durante décadas. Não só sobreviveram como estão a ter resultados fantásticos”, conta ao Shifter. Será que o mesmo se verifica na sua empresa? Price diz que ainda é cedo para avaliar, mas que “acredita” bastante no sucesso das suas medidas. Com mais ou menos dinheiro, o empreendedor norte-americano deixa uma certeza: “Eu acho que as coisas mudam sempre. Tens apenas que fazer o teu melhor todos os dias.”
Na altura, Price não foi poupado de críticas de que é uma fraude, uma queixa do irmão e sócio da sua empresa, e outras acusações pessoais. A avalanche de atenção mediática foi como um repelente para Dan Price: quis afastar-se dos media desde o final do ano passado para não alimentar as polémicas. “Começava o dia a preocupar-me mais com o que diziam sobre mim do que com os desafios da minha empresa”, disse em resposta a uma das perguntas da audiência na GoYouth Conference.
Como é habitual, a ânsia estava nos conselhos que daria. Mas Price é mesmo entusiasta disso. Numa das conversas privadas com os participantes do evento disse até para ignorarem a maior parte dos conselhos (sem deixar de os ouvir) e fazerem as suas próprias decisões. Ainda assim, deixou no ar o habitual: a receita junta coragem, riscos e mudança. A maneira de o fazer e de lá chegar é diferente para cada.