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As capas de revista são sempre tema de conversa nas semanas que seguem. Não é preciso grande esforço para nos lembrarmos de duas ou três que alteraram a forma como vemos o mundo ou determinado fenómeno.
Desta vez, foi uma campanha da Vogue Brasil a saltar para o centro das atenções mas não pelos melhores motivos. Tudo começou com o que podia ser uma boa ideia, executada de uma forma reveladora de um preconceito inesperado. A campanha pretende chamar a atenção para os Jogos Paralímpicos do Rio 2016 através do mote “Somos Todos Paralímpicos”. O problema é que a revista achou que a melhor forma de o fazer era usando dois actores brasileiros conhecidos do público, sãos, e alterar digitalmente a imagem deles, “amputando-os”, em vez de usar atletas paralímpicos para ilustrar uma realidade que é sua.
A campanha tem gerado muita controvérsia no Brasil e no mundo. Muitas pessoas acusam a Vogue de preconceito e de reforçar que a deficiência e a beleza não são conceitos compatíveis. Há ainda quem diga que a escolha de usar actores/modelos mostra como a sociedade ainda não percebe a realidade das pessoas com deficiência.
A fotografia dos actores Cleo Pires e Paulinho Vilhena – embaixadores dos Jogos – foi alterada digitalmente para replicar as deficiências motoras da atleta de Ténis de Mesa Bruna Alexandre e do jogador de Voleibol Renato Leite. O braço de Bruna foi amputado aos 3 anos, enquanto Renato tem uma prótese na perna direita.
Ao invés de mutilar digitalmente artistas, por que não aproveitam atletas de fato deficientes na campanha #SomosTodosParalímpicos?
— caroline (@fcalemos) 24 de agosto de 2016
Muito boa essa campanha da vogue “olha como eu lido bem com minha deficiência de photoshop”. Nossa, parabéns. Heróicos, inédito, inacreditáv
— Esteban Tavares (@estebantavares) 24 de agosto de 2016
eu realmente não sei o que mais me choca nesse editorial da vogue, os atores terem aceitado fazer isso ou a pessoa que disse “aprovado”
— wemerson (@tardedesetembro) 24 de agosto de 2016
4.350 atletas nos Jogos Paralímpicos e a Vogue vai lá e me mete DOIS ATORES/MODELOS sem NENHUMA deficiência e, principalmente: necessidade.
— Alessandra Barro (@letslide) 24 de agosto de 2016
A Vogue Brasil acabou por emitir um comunicado em resposta à polémica: “Essa não é uma campanha da Vogue. A campanha foi concebida pelos atores Cleo Pires, Paulo Vilhena (embaixadores dos jogos) e pela Agência África. Vogue, juntamente com a Edições Globo Condé Nast, apenas apoia a iniciativa assim como apoia qualquer iniciativa que estimule o comparecimento aos jogos. “Vogue respeita a opinião dos leitores que discordaram do formato da campanha, mas reitera seu compromisso em divulgar a importância da Paralimpíada. Continuaremos a apoiar todas as iniciativas do comitê paralímpico que estimulem o comparecimento aos jogos”.
Também a mesa-tenista Bruna Alexandre quis esclarecer que não se sentiu desrespeitada pela campanha, mas sim orgulhosa por ser representada desta forma.
Bruna Alexandre aproveita ainda para convidar toda a gente a torcer pelos atletas paralímpicos nos Jogos que se realizam de 7 a 18 de Setembro. É que, até agora, só se venderam 20% dos bilhetes.