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Chama-se James Damore, tem 28 anos. Até segunda-feira, 7 de Agosto, trabalhava como engenheiro de software na Google. Desde então tem sido “um pária para alguns, um mártir para outros”, como bem resume a Bloomberg. James foi despedido depois de, dias antes, ter partilhado um manifesto no qual propunha soluções para uma Google mais igual nas questões de género.
O ambiente descontraído e invulgar dos escritórios da Google tem servido de inspiração para muitos, desde a start-up portuguesa Uniplaces à empresa ficcional Holly, da série Silicon Valley. Mas o manifesto de James Damore dá-nos uma perspectiva diferente. No polémico documento, que o Gizmodo publicou dia 5, o agora ex-funcionário da Google questiona as política de diversidade da tecnológica, denunciando uma “câmara de eco ideológica onde algumas ideias são demasiado sagradas para serem discutidas”.

Ao longo de uma dezena de páginas de texto, ilustrado com alguns gráficos, James posiciona a Google politicamente à esquerda para dizer como essa ideologia pode afectar as políticas da empresa, referindo que são precisos os dois pontos de vista (esquerda e direita) para uma “sociedade funcional”. O ex-Googler denuncia, de seguida, que as diferenças biológicas entre homens e mulheres explicam, em parte, porque é que não existe uma representação igualitária na tecnologia e liderança. E acrescenta que as políticas para combater essa desigualdade de género e promover a diversidade baseadas numa discriminação positiva são más para o negócio e prejudicam pessoas como ele, sugerindo que a sua substituição por outras que não tenham essa base.
O manifesto de James Damore não caiu bem entre a opinião pública, não tendo ajudado a tal o epíteto de mensagem anti-diversidade que a cobertura jornalística lhe colou. James foi despedido por “perpetuar estereótipos de género”. Numa nota que enviou aos colaboradores, Sundar Pichai, CEO da Google, defendeu que o manifesto “viola o nosso código de conduta e pisa a linha ao contribuir para estereótipos de género nocivos no nosso local de trabalho”. Mas à direita há quem concorde com as afirmações do engenheiro dispensado e reprove a decisão da Google.

Depois de recursar ou adiar entrevistas aos principais órgãos de comunicação social norte-americanos, Demore falou pela primeira vez em público no canal de YouTube de de Stefan Molyneaux, um canadiano que é considerado uma das vozes da denominada direita alternativa (ou alt-right). Explicou porque escreveu e como escreveu o manifesto. “Muito disto veio do facto de ver alguns problemas com a nossa cultura na Google, empresa onde muitas pessoas que não faziam parte desse pensamento de grupo se sentiam totalmente isoladas e marginalizadas”, disse. “Havia muita tentativa de gerar vergonha: ‘não, não podes dizer isso. Isso é sexista’. Há muita hipocrisia em muitas coisas que eram ditas”, afirmou ainda em entrevista a Stefan. Durante essa conversa, que durou 45 minutos, James reforçou que não é racista nem sexista, tal como diz no documento. “Resolvi fazer o documento para esclarecer os meus pontos de vista.”
De acordo com o seu perfil no LinkedIn, James Damore entrou na Google como estagiário de Verão em 2013, depois de terminar um mestrado. Lá ficou até a semana passada como engenheiro de software. Quando foi demitido, era um funcionário de nível cinco no sistema interno de classificação do Google, de 10 níveis, segundo referiram à Bloomberg duas pessoas com conhecimento do assunto, que pediram anonimato. Damore estará a analisar todos os recursos legais para se salvaguardar da decisão de despedimento, tendo já apresentado uma queixa contra a subsidiária da Alphabet no Conselho Nacional de Relações de Trabalho dos Estados Unidos.