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No dia em que Manuel António Pina celebraria 74 anos, surgem boas notícias no que toca à preservação da sua memória – todo o seu espólio será digitalizado, originais dos livros, rascunhos de poemas, cartas perdidas e desenhos rápidos, perdidas entre os vários cadernos Moleskine que acompanharam o escritor ao longo da vida.
A notícia foi avançada pelo Público que aponta o anúncio para a família do autor. Em simultâneo também a Porto Editora celebrará o dia com a edição de A Noite, um dos livros para crianças do autor.
Manuel António Pima, vencedor do prémio Camões em 2011, foi poeta, ficcionista, cronista e dramaturgo, deixando uma vasta obra que a contemporaniedade ainda não teve tempo de processar.
A digitalização de todo o seu espólio será possível graças a uma bolsa de seis mil euros dadas pela fundação Gulbenkian e colocará os documentos à guarda do Centro de Estudos da Cultura em Portugal, uma associação criada pela FLUP para gerir casos semelhantes. A título de exemplo, como refere o jornal Público, também o arquivo do poeta Herberto Helder se encontra à guarda desta instituição.
Quanto aos originais físicos dos documentos não se sabe qual será o seu destino, que ficará à decisão da família. A duplicação online é para já o primeiro passo e fundamental tornando os documentos acessíveis a um número muito maior de pessoas.
Manuel António Pina é visto pela crítica como um dos mais talentosos escritores da sua geração em Portugal. Faria hoje 74 anos e é por esse motivo tema de destaque nos principais jornais portugueses com notas de recordação e memória sobre um bom escritor e, como todos referem, um escritor bom e de valores louváveis.
MATÉRIA DAS ESTRELAS
Porque é tudo para sempre, mesmo a efémera morte,
encontrar-nos-emos eternamente
e nunca mais nos veremos.
O impossível volta a ser impossível. Para sempre.
Impossível é cada manhã aberta,
um deus sonha consigo através de nós.
Às vezes quase posso tocá-lo, ao deus,
surpreendê-lo no seu sono, também ele real e efémero.
Matéria, alma do nada,
os mortos ouvem a tua música sólida
pela primeira vez, como uma respiração de estrelas.
A sua intranquilidade transforma-se em si mesma, música.
Manuel António Pina (18/11/1943 – 19/10/2012) in «Todas as Palavras — poesia reunida»