A Netflix tem investido bastante em séries animadas para adultos, e tem tido bons resultados. Séries como Rick and Morty, BoJack Horseman e Big Mouth são exemplos de investimentos de sucesso por parte desta plataforma de streaming, quer no campo da produção quer no da distribuição, que originaram autênticas febres.
O mais recente fenómeno é Big Mouth, a série que aborda os problemas dos pré-adolescentes sem escrúpulos nem taboos. Os criadores Nick Kroll, Andrew Goldberg, Jennifer Flackett e Mark Levin não têm medo de contar a vergonhosa realidade da puberdade, recorrendo a algumas histórias retiradas diretamente das suas vidas, repletas de cenas de tensão (e tesão), dor e humilhação mediadas com um humor bastante juvenil. Ao longo de toda a primeira temporada podes esperar inúmeras caralhadas, esporradelas e piadas fáceis que contrastam com o humor refinado e repleto de referências à cultura pop americana, e não só. Cada episódio é recheado de pequenos pormenores, que ao longo da série, conquistam até o espectador mais céptico.
Para teres noção, a certo momento somos transportados para o Fight Club, só para ficares com uma ideia dos devaneios que esta série é capaz. O filme porno de Sylvester Stallone é uma piada recorrente na série, para além de diversas referencias musicais com versões bem alternativas. Em suma, se ainda não viste Big Mouth, talvez seja um bom momento para começar – depois de leres este artigo, claro.
Big Mouth, retrata um grupo de crianças a entrar na puberdade, mostrando o quão desconfortável e constrangedor esse período pode ser, da forma mais honesta e indecente possível. Viajando entre as perspectivas feminina e masculina desta fase e sem meias palavras ou medidas, torna temáticas que poderiam ser discutidas numa aula de educação sexual em viagens metafisicas onde contactamos com seres hormonais e fantasmas sempre prontos a dar aquele conselho na hora que tu mais precisas.
Neste âmbito, particular destaque para a inclusão do “fantasma real”. Falamos de Duke Ellington, um dos maiores nomes da história do jazz e uma das personagens mais random deste elenco. Nesta etapa da sua vida pós-morte, o artista vive no sótão de Nick Birch, um dos protagonistas da série, a quem oferece conselhos sobre sexualidade baseados nas suas experiências da sua vida. Podemos ainda adiantar que Duke é o responsável por extravagantes momentos musicais, com participações de Freedie Mercury, Whitney Houston ou até Sócrates, que viaja desde a Grécia antiga para explicar a sua visão da homossexualidade. A existência de seres surrealistas é algo recorrente nas criações de Andrew Goldberg, exemplos disso são Roger e Klaus em American Dad ou Brian em Family Guy.
A narrativa central gira em torno de Nick, Andrew e Jessi, um triângulo juvenil que vai enfrentando os habituais problemas da pré-adolescência, desde a complicação que pode ser manter um relacionamento à dificuldade e necessidade de aceitação por parte dos outros. Apesar de Nick ainda não ter entrado na puberdade, Andrew já, e isso leva-o a andar acompanhado por Maurice, o monstro hormonal que passa a vida a tentar convencê-lo a seguir os seus impulsos sexuais.
Também há uma monstra das hormonas, a fiel parceira de Jessi, que surge na sua vida aquando da sua primeira menstruação, originando uma verdadeira emancipação hormonal. É também ela responsável por lhe apresentar mais tarde a sua vagina, um verdadeiro novo mundo.
Os pais dos três jovens, apesar de não serem o foco da narrativa, são elementos cruciais para apimentar a história, funcionando também como peças fundamentais para compreender o caracter das crianças. Outros adultos, como o treinador Steve, são “apenas” tolos sempre a criar momentos constrangedores.
Os protagonistas são representados por Nick Kroll e John Mulaney. Jessi Klein dá voz à Jessi Glazer, a principal amiga de Nick e Andrew, Jason Mantzoukas é Jay Bilzerian, protagonista de uma bela história de amor com uma almofada. Já fantasma de Duke Ellington é interpretado por Jordan Peele.
A primeira temporada, composta por 10 episódios já está disponível no Netflix e a segunda temporada já está confirmada para 2018. De salientar que Big Mouth tem no genérico o recém-falecido Charles Bradley a cantar uma versão de “Changes”, dos Black Sabbath.