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Numa época em que a nossa vida privada nunca esteve tão exposta, faz sentido pensar numa crise da intimidade conduzida por uma sobre-exposição pessoal. Uma contínua mostra do eu e uma individualidade que se vai perdendo, conduzida por mil redes sociais que operam ao mesmo tempo, a todos os minutos do dia num constante estímulo do cérebro que pouco tempo e espaço nos deixa para a reflexão e para o pudor faz-nos pensar que vivemos numa banalização de sentimentos e emoções outrora fortuitos e inestimáveis. Já não se pensa a palavra “amor” e a intimidade e, neste contexto de exposição pública, parece ter perdido o seu sentido mais privado.
É esta a premissa deste ciclo, que propõe o cinema como ferramenta útil para examinar e reflectir esta mesma questão do amor e da identidade. Somos obrigados, durante duas a três horas a fugir ao flash de informação, ao estímulo constante do dia-a-dia e à distracção eterna a que a contemporaneidade nos habitua – é tempo de parar, pensar e olhar. Não há nada entre o espaço entre nós e o ecrã – cria-se uma oportunidade para a visualização calma e reflectiva do filme, na luz destes temas e destas questões.
Organizado pelo Instituto de História da Arte (IHA) em conjunto com a Medeia Filmes e a Leopardo Filmes, este ciclo, composto por uma selecção de 10 filmes, encontra-se exactamente a meio do caminho, com ainda grandes clássicos do cinema moderno e contemporâneo. Com sessões quinzenais no Espaço Nimas, após a exibição do filme abre-se um debate onde se conversa entre críticos de cinema, artistas, historiadores, antropólogos e outros os filmes à luz destes problemas e destas questões sociais da contemporaneidade.

A próxima sessão é na primeira quinta-feira de Maio (as sessões são sempre às quintas) com Ma Muit Chez Maud, de Eric Rohmer. É o terceiro da série “Six Moral Tales” do autor, que numa jornada de seis filmes desenvolve um espaço para desafiar e pensar a moral, o amor e a relação entre homem e mulher. Para quem tiver vontade de mais, uma boa sugestão é chegar a casa e ver os restantes – partilham uma narrativa semelhante e o problema central é geralmente o mesmo, tornando-se num estudo das diferentes reacções e acções do ser humano e do homem e da mulher numa vida conjunta.

Em Maio podemos ainda ver o filme de culto independente que durante anos inundou feeds do póstumo Tumblr, Pinterest e Instagram, enquanto marco de uma cultura visual independente da América dos anos 1990, Buffalo’66, de Vincent Gallo. No final do mês um exercício de suspense e manipulação italiano com Non Credo Più Al’amore (La Paura), de Rosselini. Termina em Junho, quando ainda podemos ver Dolls, de Takeshi Kitano, e Boy Meets Girl, de Leos Caraux, respectivamente a 6 e 20 de Junho.
Texto de: Elisabete Magalhães
Editado por: Mário Rui André