Quando um “pé de chumbo” decide aprender a dançar

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Foto de Ardian Lumi via Unsplash

Quando um “pé de chumbo” decide aprender a dançar

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Lindy Hop é um movimento que está a crescer discretamente em Lisboa e também no Porto. Podes vê-lo em alguns espaços da cidade e até experimentar – mesmo que aches que não tens jeito nenhum para a dança.

Comecei como muitos começam: conhecia alguém que fazia, tinha espreitado umas festas – uma em plena Avenida da Liberdade, outra no Primeiro Andar – e decidi aproveitar uma aula aberta. Procurava algo para desanuviar a cabeça, conhecer novas pessoas e sair da zona de conforto. Para um “pé de chumbo” como eu, dançar nunca foi um forte mas senti que podia ser um desafio fixe.

Lindy Hop é um movimento que está a crescer discretamente em Lisboa e no Porto. Trata-se de uma dança originária dos EUA dos anos 1920, que entrou em Portugal pelo Porto antes de contagiar a capital. Há pelo menos três escolas – a Swing Station e a Little Big Apple (a minha é a segunda), em Lisboa, e a HOP Dance Studio, na cidade Invicta – onde é possível aprender passos de Lindy Hop e de outras danças, como Solo Jazz, Blues, Balboa, etc.

Lindy Hop é uma dança a pares – um(a) leader e um(a) follower –, que tradicionalmente é composto por um rapaz (leader) e uma rapariga (follower) mas não tem de ser necessariamente assim. O(a) leader é quem lidera a dança, numa parceria estreia com o(a) follower. Não são pares fixos – nas aulas, estão sempre a trocar para diversificar a aprendizagem e, nas festas, basta convidar alguém para dançar uma, duas ou mais músicas.

Dança-se ao som de swing, um estilo dentro do género do Jazz que se desenvolveu nos EUA nos anos 1920 e que se distingue por apresentar ritmos marcados e batidas mais espaçadas. Louis Armstrong, Glenn Miller, Ella Fitzgerald ou Nat King Cole são apenas alguns dos músicos que ajudaram a tornar o swing popular e que integram recorrentemente playlists.

O Lindy Hop está não só dentro de portas, mas também em ruas, jardins e bares. São eventos que se dividem entre festas e práticas – as primeiras são momentos de diversão; as segundas servem para praticar o que se aprende nas aulas e surgem de forma quase espontânea na cidade. Há várias no Jardim da Estrela ou na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ou na Praça dos Leões, no Porto, e são gratuitas e de acesso livre, podendo ser uma oportunidade para conhecer um pouco do que é o Lindy Hop. Nas festas, a dança é geralmente conduzida por uma banda convidada e, pelo menos em Lisboa, acontecem em espaços como a Fábrica Braço de Prata ou o Ateneu Madre Deus. Há ainda os festivais (Blue Skies Lisbon, Atlantic Swing Festival e Porto Swing Jam), que recebem lindy hoppers de todo o mundo, incluindo bandas internacionais e professores que dão workshops especiais.

Algumas das iniciativas são promovidas pelas escolas, outras pela comunidade. O reduzido número de praticantes que o Lindy Hop ainda tem em Lisboa e no Porto, comparativamente a cidades como Barcelona, permite criar uma comunidade bastante próxima e sólida. Entre as escolas não existem paredes, e a entreajuda e a simpatia são constantes ente os lindy hoppers.

Regularmente são abertas novas turmas; por isso, aconselho a ficares atento às redes sociais das três escolas. A primeira aula é sempre aberta e gratuita, sendo uma oportunidade para experimentar e saber se se gosta. Arrancar vai ser sempre difícil mas depressa se entra no ritmo. E se achas que dançar não é contigo, deixa-te de coisas: experimenta, pelo menos. E “quem dança seus males espanta” – não dizem os especialistas mas bem podiam porque dançar é um bom estímulo para o espírito e o cérebro.

Se esta te parece uma experiência banal e não percebes porque o associamos a liberdade, pensa nos constrangimentos associados a um jovem de 24 anos focado no trabalho, amante das tecnologias e com dois verdadeiros pés-esquerdos no que toca a dança. O treino semanal de Lindy é um escape à rotina, uma fuga ao stress do dia-a-dia com hora marcada. O facto de ser em grupo, ao contrário de outros nerd-sports como o jogging, ajuda a soltar as amarras que o excesso convívio de online por vezes cria no mundo físico. Para além disso e do ponto de vista prático, é mais um tempo da semana em que a disciplina obriga afastar de qualquer gadget e livrar-me da sua luz azulada.

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