É inaugurada, esta segunda-feira, em Jerusalém a polémica embaixada norte-americana, recentemente deslocada da cidade de Tel Aviv. No bairro de Arnona, em Jerusalém, nascerá a nova embaixada dos Estados Unido naquele país díspar do Médio Oriente – um marco histórico da política internacional de Donald Trump.
A decisão foi amplamente comentada, merecendo críticas de vários quadrantes da sociedade civil, por ignorar a diplomacia que prevalecia até então, mas as provas de que agrada a grandes grupos de israelitas independentemente de fugir ao consenso global são inegáveis.
A cidade de Jerusalém mantinha-se terreno isento e de mínima actuação política por ser considerada um local sagrado tanto para palestinianos como israelitas; numa designação da ONU de 1947, Jerusalém, foi inclusivamente considerada “corpus separatum”, numa assunção do seu carácter internacional muito particular. A decisão de Trump de alterar a embaixada dos EUA para este local ignora essa deliberação, criando um epicentro político num local até então isento e abrindo precedente para avanços políticos até aqui impossíveis.
FC Beitar é agora… FC Beitar Trump Jerusalém
O último sinal da receptividade e felicidade de alguns israelitas nesta questão foi dado no mundo do futebol. Um dos principais clubes de futebol de Israel – de Jerusalém –, o Beitar, decidiu acrescentar ao seu nome “Trump”. O anúncio foi feito no Facebook. num post em inglês e hebraico. com elogios ao POTUS por revelar coragem e amor a Israel.
70 שנה המתינה ירושלים להכרה בינלאומית, עד שהנשיא דונלד טראמפ החליט לעשות מעשה והכיר בה כבירת הנצח של עם ישראל.
בית"ר ירושלים, מהמותגים הירושלמים הבולטים ביותר, החליט לגמול לנשיא על אהבתו, ומעתה תיקרא קבוצת המנורה "בית"ר 'טראמפ' ירושלים".
לפרטים המלאים: https://t.co/F03lrPfsmO pic.twitter.com/pngl3dPUwi— Beitar Jerusalem FC (@fcbeitar) May 13, 2018
O até aqui F.C. Beitar Jerusalém passa agora a chamar-se “F.C. Beitar Trump Jerusalém”, numa homenagem ao Presidente norte-americano que assumiu este passo – previsto mais adiado desde 1995 pelos sucessivos presidentes norte-americanos.
O clube de Jerusalém, de resto, sempre teve a si associado uma mensagem nacionalista e, de certo modo, anti-árabe. Em 2016 em declarações à agência EFE, um membro da claque do Beitar esclareceu mesmo que uma das frases dos cânticos mais populares refere “Somos o clube racista do estado”, na sequência de uma operação policial que resultou em mais de 80 membros da claque detidos por associação a actividades criminosas de vários tipos. Outro dado curioso é que Beitar é o único clube israelita no qual nunca participaram jogadores muçulmanos. Na única altura em que isso esteve para acontecer, segundo a agência EFE, os adeptos terão mesmo incendiado algumas das instalações do clube, como forma de expressar o seu desagrado.
Outras consequências políticas e sociais
Na sequência dessa mesma decisão política também os confrontos entre palestinianos e israelitas se agudizaram durante o início desta semana. Recorde-se que decorre até terça-feira a marcha do Retorno, conhecida manifestação palestiniana junta das fronteiras impostas e defendidas pelo Estado de Israel e pela Israeli Defense Force. À concentração popular e à aproximação dos manifestantes da vedação, o exército israelita tem respondido com fogo de snipper. Só nesta segunda feira, segundo reporta a imprensa internacional, já terão sido mortas 37 pessoas e feridas mais de 500, fazendo deste dia o 2º mais sangrento desde 2014.
A concentração de palestinianos junto da vedação foi especialmente incentivada para esta segunda devido à inauguração da embaixada norte-americana, a que os palestinianos logicamente se opõe. Altas instâncias israelitas negam o uso desproporcional da força, alegando que vêm nos protestos uma ameaça séria. De resto, ainda esta segunda-feira, aviões largaram panfletos sobre a zona de origem dos manifestantes, procurando dissuadi-los de estarem presentes, com uma mensagem: “Estás a participar em protestos violentos. Salva-te e prioriza o teu futuro.”
Do lado de Israel, a tese é de que os protestos são incentivados por uma organização que consideram de índole terrorista, o Hamas, que, por seu turno, reitera defender soluções pacíficas. Para balanço ficam os números: desde 30 de Março, início das manifestações junto da Faixa de Gaza, já morreram 58 palestinianos, enquanto do lado de Israel e – apesar das alegações de perigo e do sentimento de ameaça descrito – não há nenhuma morte a registar.
Outro ponto importante que não foi deixado ao acaso foi a data da inauguração. Esta semana os israelitas celebram os 70 anos da criação do estado israelita, enquanto os palestinianos recordam o “Nakba”, a deslocação de palestinianos dos seus territórios pelo mesmo motivo.