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“À 11ª hora, do 11º dia do 11º mês.” Há 100 anos, no dia 11 de Novembro celebrava-se o fim da 1ª Guerra Mundial. Um acordo assinado entre Alemanha e as tropas Aliadas punha termo a um conflito que vitimara perto de quarenta milhões de pessoas ficando conhecida na história como a ‘Grande Guerra’. O centenário deste marco histórico foi relembrado em Paris, numa cimeira que juntou os principais líderes mundiais, mas o encontro foi tudo menos pacífico e deixou bem visíveis as tensões que continuam a existir.
Numa cerimónia mais simbólica do que política juntaram-se na capital francesa os principais líderes políticos e protagonistas do complexo xadrez estratégico. Donald Trump, Vladimir Putin e Racyip Erdogan foram alguns dos nomes que fizeram questão de estar em Paris apesar das comemorações se espalharem por todos os países envolvidos no conflito.
Portraits of soldiers killed in WW1 were sculpted into beaches across the country, as part of @officialdannybo's ‘Pages of the Sea’. pic.twitter.com/4iy6Vj67As
— Channel 4 News (@Channel4News) November 11, 2018
Falsa Partida entre Trump e Macron
O encontro não começou da melhor forma; Trump ainda não tinha aterrado em Paris e já tweetava – claro – sobre o seu descontamento face à possibilidade de um exército europeu. Uma possibilidade que considerou ofensiva mas que rapidamente desvalorizou depois do enquadramento feito pelo homólogo francês, que sublinhou o compromisso europeu com a NATO, revelando que não propunha a criação de um corpo de defesa substituto.
A formação de um exército europeu não é uma ideia nova do Presidente francês, Emmanuel Macron; já a havia apresentado há alguns meses, tendo inclusive na altura acolhido o apoio português. Nas suas palavras, seria uma forma da União Europeia se proteger de outras grandes potencias como a China, a Rússia ou.. os Estados Unidos da América (EUA), ponto que Trump terá considerado insultuoso.
President Macron of France has just suggested that Europe build its own military in order to protect itself from the U.S., China and Russia. Very insulting, but perhaps Europe should first pay its fair share of NATO, which the U.S. subsidizes greatly!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 9, 2018
Exactly 100 years ago today, on November 11th, 1918, World War I came to an end. We are gathered together, at this hallowed resting place, to pay tribute to the brave Americans who gave their last breath in that mighty struggle…. pic.twitter.com/JPUkOr4rW1
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 12, 2018
Today we remember the brave actions of our troops and those of our allies during WWI. Honored to be spending this day honoring heroes in Paris. #VeteransDay pic.twitter.com/NQoteCqecH
— Melania Trump (@FLOTUS) November 11, 2018
We just had a very good conversation with President Trump on counter-terrorism, European defense, Iran, Syria, the Gulf region, Libya, and many other issues of common interest for France and the United States. https://t.co/SjJRKhwbvw
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) November 10, 2018
When brave American soldiers came to France one hundred years ago, they fought and shed their blood in a place they sometimes didn’t know. That reinforced even more the special bond between our two Nations. Thank you for your presence at this ceremony President @realDonaldTrump. https://t.co/k3BEepGTqX
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) November 11, 2018
O que os esperava
Como é habitual em grandes encontros das lideranças mundiais há sempre que tenha a coragem de protestar e, geralmente, de forma mais radical. Este evento não foi excepção. Não houve conflitos de maior a registar como em encontros sobre a temática ambientalista ou fóruns económicos – também foi um evento mais curto –, mas registaram-se várias manifestações – sobretudo de anti-guerra, pro-multiculturalismo e anti-Trump – e um protesto simbólico do grupo de activistas FEMEN.
No seu figurino habitual, quase nuas, as activistas do grupo feminista radical deram as boas vindas aos “senhores da guerra” a este certame de paz podia ler-se nos seus cartazes. Sem especificar nomes, ergueram cartazes onde se podia ler “Bem vindos Criminosos de Guerra” e “Guerra é paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força” e fizeram-se ouvir até acabarem por ser detidas pela polícia local.
Nora, Fleur y Celine siguen en calabozos. LIBERTAD PARA FEMEN!
NO somos exhibicionistas, somos feministas, somos activistas.Protestar no es ilegal! @Femen_France #femen pic.twitter.com/M5NSX92h4q
— FEMEN Spain- España (@FemenSpain) November 11, 2018
Outro dos protestos a marcar a cerimónia foi o voo do já icónico bebé-Trump-insuflável. O gigante balão de ar quente feito para receber Donald Trump na sua visita a terras de sua majestade, levantou voo nos céus de Paris para assinalar a presença do Presidente dos Estados Unidos da América.
Politicamente falando
Apesar do seu teor simbólico, eventos que juntem tanta gente com cargos de decisão têm sempre o seu peso político – de resto qualquer acção tem a sua potencial conotação – e nem os atrasos de Trump, que chegou na sua limusine, ou de Vladimir Putin são uma excepção. As palavras ficaram sobretudo ao cargo do presidente francês que, em jeito de alerta, relembrou dos perigos dos nacionalismos, exacerbado apelando à UE e aos EUA como forças de contenção.
“O nacionalismo é a traição do patriotismo”, disse Emmanuel Macron, numa clara alusão à emergência dos fenómenos populistas que confudem os conceitos.
Para além das palavras, outros momentos menos sonantes marcaram igualmente o encontro. De um lado, a reunião entre os presidentes da Sérvia e do Kosovo, que há 20 anos que têm uma relação, ilustrou na perfeição a felicidade e esperança que Macron vira naquele encontro. Por outro, a ausência do presidente polaco por estar a desfilar numa marcha com um grupo de extrema-direita mostrava que o seu alerta tem razão de ser.
Emmanuel Macron, presidente francês, tem sido uma das figuras mais empenhadas em mostrar-se activo nas políticas de defesa e colou às celebrações o Fórum Mundial da Paz, no qual se reúnem 60 chefes de estado e pelo menos 30 organizações internacionais em representação de perto de 100 países. Nesse encontro onde estiveram Marcelo Rebelo de Sousa e Angela Merkel, Trump é um dos grandes ausentes.
O presidente dos EUA foi durante o fim de semana alvo de duras críticas por dar como desculpa a chuva para não visitar o cemitério francês onde se encontram centenas de soldados norte-americanos. Para os críticos, era inaceitável que o POTUS se esquivasse a homenagear soldados dando como desculpa as condições meteorológicas; Assim Trump acabou por realizar a visitar no domingo.