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Acordos e desencontros marcaram a reunião do G20 deste ano. Trump evitou cruzar-se com Vladimir Putin depois de ter recusado um encontro oficial entre os dois durante a cerimónia, devido ao incidente no estreito de Kerch. Realizou-se apenas uma “reunião informal” entre dois homólogos de ambos os países, onde não se sabe ao certo o que foi discutido. Apesar de, na semana passada, a Ucrânia ter reforçado a sua cólera contra a Rússia e pedido à NATO maior presença naval e aérea entre o Mar Negro e o mar Azov, de modo a defender-se da vizinha, nada foi dito sobre o assunto durante o evento, que decorreu entre 30 de novembro e 1 de dezembro, na Argentina.
Spotted at the G20 summit: Saudi Arabia's Mohammed Bin Salman shaking hands and smiling with Russian President Vladimir Putin: https://t.co/wjG44vkQla pic.twitter.com/MQ4M4UyuqS
— CBS This Morning (@CBSThisMorning) November 30, 2018
A reunião que junta, todos os anos, líderes da União Europeia, das maiores economias do mundo e emergentes contou também com a presença do príncipe da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, primeiro a aterrar em Buenos Aires. A presença forçada de MBS, como gosta de ser tratado, causou desconforto durante a cimeira, que se realizou dois meses após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado daquele país em Istambul. Khashoggi publicava ocasionalmente textos que criticavam a trajectória política e económica do novo reinado saudita no Washinton Post. Para além do assassinato de Khashoggi, a aliança de quatro anos entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos contra o Iémen, que provocou a maior onda de fome no país, não ajudou a uma recepção desejada de MBS na cimeira. O conflito já levou à morte de 85 mil crianças por subnutrição no Iémen. Mas nem a crise no Iémen nem o assassinato de Kahshoggi marcaram a agenda do encontro em momento algum.
#MbS and #Macron's at #G20, allegedly about the #Khashoggi murder
MbS: Don't worry.
M: I do worry. I am worried.
MbS: That's right
M: I told you.
MbS: Yes, you told me.
Mac: You never listen to me.
MbS: No, I listen of course.
M: Because I told you…— EHA News (@eha_news) November 30, 2018
Not that popular anymore, is he? #mbs #G20 pic.twitter.com/6aO46l3XAA
— Ragnar Weilandt (@RagnarWeilandt) December 3, 2018
No meio de uma cimeira sem grandes debates e durante a qual se evitaram ao máximo temas polémicos, os EUA, o México e o Canadá aproveitaram para assinar formalmente o novo tratado de livre-comércio, apelidado “T-MEC” pelos mexicanos, e que substitui o antigo NAFTA. Mas o T-MEC não foi a única trégua comercial estabelecida na cerimónia. Trump reuniu-se também com Xi Jinping, presidente da China, para dar início a uma possível negociação para acabar com a luta comercial travada entre os dois países, no último ano. EUA e China vão, a partir de agora, tentar chegar a um acordo, sem ameaças de imposição de taxas e outras represálias e Trump já começou a tweetar sobre o assunto.
…..China does not want Tariffs!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 5, 2018
A declaração final
Sem grande debate sobre o reaparecimento de novas medidas comerciais proteccionistas e apenas admitindo que existem, hoje, “problemas a nível comercial” internacionalmente, os líderes presentes na cimeira limitaram-se a obter consentimento sobre a necessidade de implementar alterações no modo de funcionamento da Organização Mundial do Comércio (OMC). Outro dos pontos de consenso foi o reafirmar do apoio ao Acordo de Paris, que pressupõe limitar o aquecimento global, à excepção de Donald Trump.
Contudo, uma ambiguidade surge na declaração reiterada pelo G20, e intitulada “Construindo consenso para um desenvolvimento justo e sustentável“, onde os líderes defendem e pretendem trabalhar para a erradicação da fome no mundo. Em nenhum momento do evento foi abordada a participação da Arábia Saudita na crise de subnutrição que o Iémen atravessa.
Sobre os novos movimentos migratórios, a declaração apenas reconhece que este se trata de um “problema global com consequências humanitárias, políticas, sociais e económicas” e que este tema fará parte da próxima reunião do G20, que se realizará para o ano, no Japão.
Para além dos temas anteriormente referidos, os 20 comprometem-se na declaração a promover a regulação das criptomoedas, tendo em vista o “combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo”.