O maior ‘influencer’ político europeu é português. Fomos conhecer o Gonçalo

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O maior ‘influencer’ político europeu é português. Fomos conhecer o Gonçalo

Há influencers para tudo, e a política já não é exceção.

Os influencers são uma constante do mundo digital em que vivemos. Há influencers para tudo, e a política já não é exceção. Aliás, como a Bárbara nos explicou há uns dias, a campanha destavezeuvoto.eu, que apela à participação nas eleições europeias de maio de 2019, tem como um dos seus pilares o uso de ferramentas digitais e redes sociais. Nessa entrevista ficámos também a saber que o campeão do apelo ao voto nas europeias é o Gonçalo Gomes, um jovem português que já angariou 559 pessoas para a campanha. Foi com ele que fomos falar.

EuroTeam (EURO): Quem és tu, o que fazes?

Gonçalo Gomes (GG): O meu nome é Gonçalo Gomes, tenho 20 anos e sou de Viseu, onde vivi durante os primeiros 18 anos da minha vida. Durante o secundário fiz atletismo federado e comecei a envolver-me nalguns projetos de cariz associativo, nomeadamente a Associação de Estudantes e o Parlamento dos Jovens. Terminado o 12º, mudei-me para Lisboa para estudar Economia na Nova SBE (Nova School of Business and Economics). Também durante estes anos procurei envolver-me na comunidade, participando em vários núcleos e projetos, dentro e fora do contexto da faculdade. Fiz recentemente Erasmus em Roterdão, Holanda, e estou de volta para o meu último semestre da licenciatura. Assim que acabar a mesma, o objetivo é ir para o “mundo real”, resolver problemas reais, e ganhar experiência de trabalho; e só depois equacionar um mestrado.

EURO: Como descobriste a campanha?

GG: A primeira vez que me deparei com a campanha foi nas redes sociais, mais precisamente no LinkedIn. Um amigo partilhou a plataforma, li, e achei a ideia bastante interessante.

EURO: O que te levou a participar?

GG: Interesso-me por questões europeias desde relativamente cedo e tenho andado muito preocupado com a recente deterioração da democracia a nível global. Uma das principais críticas que se faz à União Europeia é a distância que existe entre os cidadãos e as instituições. Por isso, quando vi um apelo a um maior envolvimento, por parte das instituições, direcionado aos cidadãos, quis tentar fazer a minha parte na luta contra a abstenção.

EURO: Qual foi a principal estratégia que utilizaste para ganhar voluntários? Partilhas nas redes, mensagens individuais, conversa com amigos…?

GG: A principal estratégia a que recorri passou pelas redes sociais (Facebook, Instagram), quer através de partilhas e de posts ao público em geral, quer através de mensagens individuais a amigos. Nestas, apelei essencialmente à importância do combate à abstenção tendo em conta as circunstâncias extraordinárias em que nos encontramos, e a possibilidade de cairmos em padrões perigosos do passado.

EURO: Que planos tens para o teu envolvimento nos próximos meses?

GG: A nível da plataforma, vou participar nas próximas semanas num evento em Viseu, e gostaria de organizar um na minha própria faculdade. Vou também continuar a recrutar voluntários, adicionando o link da plataforma a pontuais posts que eventualmente faça sobre a UE e os tempos que vivemos.

A nível pessoal, pretendo continuar envolvido em projetos que promovem a aproximação da UE aos cidadãos, nomeadamente enquanto Young European Ambassador (YEA) e coordenador do projeto Understanding Europe Portugal (UE PT). O primeiro é um programa essencialmente dedicado à aproximação entre jovens da UE e jovens de países da Eastern Partnership; o segundo consiste em Crash Courses de 4 horas relacionados com a União Europeia (história; instituições; participação cívica, entre outros temas) que dinamizamos em Escolas Secundárias um pouco por todo o país, sem qualquer custo para as mesmas.

Finalmente, juntei-me recentemente a um movimento de cidadãos muito interessante, que está neste momento presente, se não estou em erro, em 32 países e é oficialmente partido em 11. É o Volt – a nível europeu adopta o nome de Volt Europa, a nível nacional adopta o nome do país (por exemplo, Volt Portugal). Defende uma nova maneira de fazer política, de pessoas para pessoas, e baseada primeiramente em factos e não necessariamente em ideologias. Pretende ainda ser o primeiro partido verdadeiramente Europeu, no sentido em que se vai candidatar às próximas europeias com um programa comum (a Amsterdam Declaration) pelos vários países onde está presente, transpondo fronteiras. Isto para explicar o porquê de ter visto no movimento uma excelente maneira de contribuir para uma Europa melhor. Última nota: está neste momento a recolher assinaturas em Portugal para se poder oficializar como partido.

EURO: Quais os principais problemas da União Europeia, e quais as respostas que gostarias de ver dadas nestas eleições?

GG: Na minha opinião, os principais problemas da UE são estruturais. Por exemplo, o requisito de unanimidade que existe nalgumas áreas de decisão condiciona bastante o progresso da União. Os Estados-Membros usam este veto de forma desadequada, como moeda de troca para objetivos secundários, e impedem a conquista de avanços importantes em certas áreas e a retificação de atentados ao estado de direito em certos países. Outro caso é o das eleições europeias: por não serem verdadeiramente europeias, são facilmente nacionalizadas. Ao serem nacionalizadas, tornam-se desinteressantes.

Claro que tudo isto se relaciona com a falta de coragem e visão de grande parte dos líderes políticos dos Estados-Membros. Salvo algumas exceções, colocam o seu interesse eleitoral imediato acima dos interesses a médio e longo prazo dos cidadãos europeus. Aproveitam-se da falta de educação política para tornar Bruxelas num bode escapatório, defendendo medidas enquanto atores europeus e posteriormente atacando as mesmas enquanto atores nacionais. E dessa forma, contribuem, quer queiram quer não, para alimentar o euroceticismo.

Portanto, nestas eleições gostaria de ver candidatos sérios, que se proponham a discutir a Europa e a colocá-la acima das respetivas carreiras políticas. Gostaria de ver outra ambição e outra energia, que neste momento não existe.

EURO: Como tens visto a campanha (ou falta dela) dos partidos portugueses?

GG: Não vi ainda grande campanha por parte dos principais partidos. É natural que à medida que nos aproximemos das eleições haja um aumento substancial dos esforços eleitorais. Mas, como disse antes, tenho pouca esperança que estes esforços se debrucem sobre questões europeias e que haja um debate verdadeiramente europeu. É pena.

EURO: Qual a mensagem que gostarias de passar aos jovens que leiam isto?

GG: Duas mensagens: não podemos esperar até que seja tarde demais, e não podemos ver-nos como vítimas de um futuro inevitável que foge ao nosso controlo.

Sobre a primeira, era muito importante fazermos todos um 10 Years Challenge mental e compararmos a nossa realidade em 2009 com a que vivemos agora em 2019. Aquilo que há alguns anos nos chocaria num enredo de House of Cards é hoje absolutamente banal no mundo real. Atitudes que antes deitariam figuras políticas ou media outlets abaixo são hoje encaradas com normalidade. Vivemos num mundo pós-verdade, no qual não importam nem factos nem ciência. Um mundo altamente polarizado, repleto de Trumps e Bolsonaros. Arriscamo-nos a perder tudo aquilo o que temos vindo a conquistar, e não temos dado a devida importância a esta ameaça; porque nos encontramos embrulhados numa realidade orientada para o dia-a-dia, para o imediato, e perdemos muitas vezes perspetiva. Daí que deixe o apelo: não podemos ser a rã que se deixa ferver apenas porque o aumento da temperatura foi gradual e não súbito. Temos que estar completamente lúcidos quanto à dimensão e urgência dos desafios que nos esperam.

Sobre a segunda: não basta estarmos conscientes dos problemas, temos que ser capazes de construir soluções. Se por um lado fenómenos como a eleição de Trump e o Brexit nos devem alarmar, os resultantes movimentos de “resistência” devem-nos inspirar. Pegando nestes dois exemplos, há muito tempo que não se via uma sociedade civil tão forte nos EUA e na Grã-Bretanha. Os chamados grassroots movements, orientados por uma lógica “das pessoas para as pessoas” têm-se multiplicado e têm-se mostrado incansáveis. A recolher fundos, a começar petições, a ligar para representantes políticos, a participar em protestos de larga escala. Vimos gerações mais jovens a participarem no processo político e toda uma panóplia de cidadãos sem experiência política prévia a candidatarem-se a eleições. Exemplo disso é Alexandra Ocasio-Cortez, que há apenas 6 meses era uma bartender de raízes muito humildes e virtualmente desconhecida e é agora a mulher mais jovem de sempre a servir no Congresso Americano. Tem-se vindo a tornar numa estrela da política norte-americana, dominando quase diariamente os noticiários e ganhando um peso tal que lhe permite influenciar de forma significativa a agenda política.

Resumindo e concluindo: percebam que a democracia está doente e que a Europa está doente. Percebam ainda que a solução passa por cada um de vocês e que têm muito, mas mesmo muito, mais poder do que pensam. Exerçam esse poder e não deixem que as próximas décadas sejam décadas perdidas!

Se chegaste até ao fim, esta mensagem é para ti

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