A falsidade das redes sociais. Somos todos felizes em 500×500

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Foto de Julian Gentilezza via Unsplash

A falsidade das redes sociais. Somos todos felizes em 500×500

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A partir do momento em que esse fragmento é o escolhido como representante oficial daquele momento, através de um post, passa a ser ele mesmo toda uma nova realidade. Mas o que é mais real: o momento em si ou o fragmento capturado e colocado nas redes?

Eram duas da manhã, aquele bar estava praticamente vazio e eu, ao fundo, numa mesa sozinho, com os meus pensamentos e um copo de fino, apreciava aquele momento que no fundo era…uma merda. Não digo isto por não me estar a divertir – o que não estava –, mas porque notava-se claramente nas expressões daqueles que por lá se encontravam que, a vida nocturna divertida e entusiástica, naquele dia tinha decidido ficar a descansar e palermas eram os que tinham saído à procura dela.

No entanto algo me despertou a atenção e num momento de inspiração, tirei o telemóvel, abri o bloco de notas e comecei a escrever sobre o assunto – sentindo-me um Don Drapper do século XXI. Passo então a citar o excerto que escrevi sobre a minha observação e, lembrem-se que àquela hora já estava com um ou dois copos em cima: “A falsidade das redes socais – as pessoas estão a ir-se embora porque tudo estava uma merda até que… de repente, toca “aquela música”, então elas voltam ao bar, dirigem-se para a pista de dança e, como se toda aquela noite estivesse a ser perfeita… zás!, surge dali um fantástico instastory, super feliz, da ‘melhor noite de sempre’, criado em 10 segundos, enquanto tu – quem o vai ver -, deprime por passar uma noite de sexta em casa sozinho, a ver séries, enquanto o resto do mundo está todo a viver o melhor da vida.”

O que me despertou a atenção aqui foi a ideia de que tudo o que vemos nas redes sociais é apenas um pequeno fragmento de uma realidade muito mais complexa. Mas a partir do momento em que esse fragmento é o escolhido como representante oficial daquele momento, através de um post, passa a ser ele mesmo toda uma nova realidade. O que é mais real: o momento em si ou o fragmento capturado e colocado nas redes?

Se queres “enganar” os teus seguidores e criar o teu mundo perfeito nas redes socais, mas a tua vida é, na verdade, um pequeno desastre (como praticamente a de todos nós), não precisas de te preocupar mais. Hoje já existem tutoriais sobre “Como fingir uma vida perfeita nas redes sociais”, e como quero que este artigo não seja apenas sobre um tipo qualquer a criticar o mundo, mas também educativo, aqui tens um vídeo.

Citando Kendall Jenner, essa filósofa do século XXI, numa entrevista que deu ao Sunday Times: “Penso que as redes sociais tomaram conta da nossa geração. É uma parte gigante das nossas vidas e isso é um pouco triste. Odeio-a algumas vezes, queremos mesmo atirar o meu telemóvel ao chão para não olhar mais para ele. É um mundo totalmente inventado se pensares nisso. As redes sociais, tudo, esta entrevista. Tudo. Não é real. Isto é algo meio assustador.”

Pessoalmente, acho que um dos principais problemas que esta nova realidade em que vivemos pode causar é um efeito negativo aos olhos do espectador dos posts. Isto porque basta abrir o Instagram para perceber como toda a gente está feliz, de férias, a viajar, a conhecer lugares exóticos e pessoas novas, a jantar em bons restaurantes, a ouvir a melhor música, nas melhores festas, com os melhores Dj’s…, enquanto tu – o merdas – estás em casa a ver televisão, pronto para ir para a cama porque amanha tens de acordar as 7 da manhã para ir passar o dia a trabalhar num emprego de que não gostas, rodeado de pessoas de que gostas ainda menos. Isto é assunto sério e pode levar a depressões.

Foto de Robin Worrall via Unsplash

Para terminar, sugiro que faças um pequeno exercício. Está mais atento quando fores na rua e repara nas pessoas a tirarem as suas selfies e a fazerem vídeos. Pensa no conteúdo final que dali vai sair e no quão distante aquele momento 500×500 é da realidade – realidade essa que tu tiveste o prazer de assistir em primeira mão.

Índice

  • Marco Cotas

    Nascido e criado em Coimbra, onde se encontra a estudar Marketing e Negócios Internacionais. Apaixonou-se pela escrita, é amante de cafés e tem um relacionamento sério com a literatura. Escritor favorito: Ernst Hemingway. Livro favorito: Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

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