Quando música alta incomoda mais do que violência doméstica

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Quando música alta incomoda mais do que violência doméstica

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“Beat. explora o silêncio sinistro em torno da violência doméstica. O vídeo é um alerta para as sociedades que reagem a qualquer ruído alto, desde que isso não seja causado por uma disputa ou abuso doméstico.”

Por vezes é a arte que melhor sabe fazer-nos valer um ponto, despertar-nos para uma mensagem ou quebrar os medos que possam existir em relação a determinado tópico. Dois búlgaros – Maksim Stoimenov, baterista, e Peruna Keremidchieva, programadora – criaram em colaboração com vítimas de violência doméstica um projecto artístico que mais uma vez lembra esse flagelo escondido e tão carregado de tabus com uma acção simples mas tocante.

Constituído por uma instalação e por um vídeo, o projecto – intitulado ‘Beat.’ – assenta numa mensagem forte: os vizinhos de um prédio são mais capazes de reagir a uma bateria a tocar a ‘todo o gás’ do que a agressivas discussões domésticas. Para o demonstrar, os artistas alugaram um apartamento num edifício habitacional e tocaram bateria até que alguém lhes fosse tocar à campainha. O vídeo documenta esta ‘experiência social’ e o colectivo garante que aconteceu como é mostrado:

No final, a conclusão é esta: 1 minuto e 52 segundo pode ser o tempo necessário para salvar uma vida – foi 1 minuto e 52 segundos depois de terem começado a tocar bateria que alguém foi tocar à porta. Auch!

“Beat. explora o silêncio sinistro em torno da violência doméstica. O vídeo é um alerta para as sociedades que reagem a qualquer ruído alto, desde que isso não seja causado por uma disputa ou abuso doméstico.”

O trabalho de Maksim Stoimenov e Peruna Keremidchieva, membros da fundação Fine Acts, foi visto por mais de 120 mil utilizadores no espaço de um ano, segundo contas feitas por uma rádio búlgara. Estatísticas indicam que, na Bulgária, 1 em cada 4 mulheres é vítima de violência doméstica e que nos últimos cinco anos dezenas de mulheres foram mortas pelo seu parceiro ou por um familiar – “em alguns casos, foram torturadas até à morte durante uma hora, com os vizinhos plenamente conscientes disso mas sem interferir”, lê-se no site do projecto. Em Portugal a situação é também ela preocupante, pelo que a acção ganha sentido nas nossas vidas.

“O nosso vídeo mostra um sítio onde algo horrível aconteceu – filmámos num edifício de apartamentos onde uma das muitas mulheres na Bulgária foi morta. Alugámos um apartamento aí e, sem avisar os vizinhos, decidimos ver quanto tempo demorariam a reagir se tocássemos bateria”, explicou Maksim Stoimenov à rádio BNR.

“Em comparação com os 50 minutos que o homicídio demorou, tempo durante o qual houve gritos e gritos, demorou menos de dois minutos para os vizinhos reagirem à bateria. Se tivessem reagido da mesma forma à violência doméstica, o resultado poderia não ter sido fatal.”

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