Líbano: uma revolta sem espectros religiosos que quer mudar um país

Procurar
Close this search box.
Foto de Rami Zizk via Twitter

Líbano: uma revolta sem espectros religiosos que quer mudar um país

A democracia precisa de quem pare para pensar.

Num ambiente mediático demasiado rápido e confuso, onde a reação imediata marca a ordem dos dias, o Shifter é uma publicação diferente. Se gostas do que fazemos subscreve a partir de 2€ e contribui para que tanto tu como quem não pode fazê-lo tenha acesso a conteúdo de qualidade e profundidade.

O teu contributo faz toda a diferença. Sabe mais aqui.

A história de um povo descontente com a corrupção do Governo e de um cordão humano, numa revolta que não olha a crenças, deixando penduradas as diversas querelas religiosas.

A instabilidade que assombra o Líbano já percorre as ruas do país há mais de dez dias. Os libaneses revelaram-se e opuseram-se às forças do poder, resultando em atos de violência sobre os manifestantes. Várias artérias já foram bloqueadas na capital, Beirute, e em Inglaterra já se fazem manifestações à frente da embaixada libanesa. Como ato simbólico contra o Governo, os manifestantes formaram um cordão humano de dezenas de milhares de quilómetros por todo o país.

É na rua que se faz a oposição ao Governo

Foi há mais de uma semana que os libaneses começaram a demonstrar o descontentamento face à governação do país. Tal como no Chile, as manifestações, que começaram contra uma medida específica, transformaram-se na voz de um povo para a melhoria de um país. Exigem agora uma reforma governamental que ponha fim ao regime de corrupção libanês.

Foi com o anúncio de novos impostos que o Governo instigou os manifestantes, nomeadamente uma taxação sobre as chamadas gratuitas via aplicações, como WhatsApp. No entanto, mesmo que o Governo tenha voltado atrás na decisão, já seria tarde demais: as pessoas já utilizavam as ruas como arma de oposição.

Fotos de Rami Zizk via Twitter

Este imposto sobre as chamadas surge, contudo, como um pretexto. Os libaneses enumeram um conjunto de fatores que os motivam a questionar a competência do Governo, como as recorrentes falhas da eletricidade, falta de água, mau serviço dos espaços públicos, aumento do desemprego, maus salários, entre outros

Uma revolta que a História do país ainda não tinha visto

Segundos os dados oficiais, a sociedade libanesa é composta por cerca de 18 religiões, o que não constitui relevância nestas manifestações. Os libaneses lutam agora por um país menos corrupto sem olhar a crenças, deixando penduradas as diversas querelas religiosas.

É importante perceber que a religião, apesar de diversa, possui regras de representatividade governamental desde 1943, quando foi assinado um pacto. Neste sentido, o Presidente tem de ser cristão maronita, o Primeiro-Ministro sunita e o Presidente do Parlamento xiita.

Fotos de Rami Zizk via Twitter

E agora?

“Não aceitamos a queda da nossa presidência, nem a resignação do Governo, e não aceitamos, nestas condições, eleições antecipadas”, disse Hassan Nasrallah, secretário-geral do partido e organização armada xiita Hizbollah, na televisão libanesa.

O Governo, porém, não permaneceu parado face à revolta do eleitorado. Desde o início das manifestações que os políticos já levaram a cabo um conjunto de medidas sociais e económicas. Prometeram criar métodos contra a corrupção, apoiar as famílias mais carenciadas, diminuir o salário dos políticos, entre outras.

Agora, resta saber se se mantêm as manifestações, o que pode resultar na queda do Governo, eleições antecipadas ou até mesmo numa guerra civil.

Índice

  • Gabriel Ribeiro

    Licenciado em Ciências da Comunicação e sempre com a câmara na mochila. Acredito que todos os locais e pessoas têm “aquela” história. Impulsionador da cultura portuguesa a tempo inteiro.

Subscreve a newsletter e acompanha o que publicamos.

Eu concordo com os Termos & Condições *

Apoia o jornalismo e a reflexão a partir de 2€ e ajuda-nos a manter livres de publicidade e paywall.

Bem-vind@ ao novo site do Shifter! Esta é uma versão beta em que ainda estamos a fazer alguns ajustes.Partilha a tua opinião enviando email para comunidade@shifter.pt