Domínio .org deixa de estar nas mãos de organização sem fins lucrativos

Imagem de Shifter, com foto de Glenn Carstens-Peters (via Unsplash)

Domínio .org deixa de estar nas mãos de organização sem fins lucrativos

Serviço era desde 2002 gerido pela Public Interest Registry, uma organização sem fins lucrativos, e sujeito a um limite máximo de preço de comercialização. Agora isso pode mudar.

Com mais de 10 milhões de domínios registados com este sufixo, o .org é um “domínio genérico de nível superior” – como o .com ou .net –, com a particularidade de ser especialmente aberto e sem restrições pela forma como até aqui era gerido. Agora a organização que o geria vendeu a sua concessão e o caso está a gerar alguma celeuma.

Criado em 1985 com o objectivo de servir especialmente organizações sem fins lucrativos, como a designação “org” indica, a concessão do .org foi comprada pela Internet Society em 2002, que criou a PIR (Public Interest Registry), uma subsidiária responsável pela sua gestão que tinha como missão mantê-lo aberto e ao serviço do interesse público. Para além disso, o registo do domínio estava sujeito a um limite máximo de preço de comercialização imposto pela ICANN – outra organização sem fins lucrativos responsável pela coordenação dos domínios a nível global –, promovendo a equidade no seu acesso. 

Agora, depois de a ICANN levantar o tecto imposto ao preço por namespace neste domínio, aquando da renovação do acordo celebrado com a PIR, foi anunciado que a Ethos Capital passará a ser a nova responsável pela gestão do .org. Ao contrário de todas as organizações mencionadas até aqui esta é uma empresa de gestão de capitais privados e o negócio não está a ser propriamente bem aceite. 

No comunicado emitido pela The Internet Society, pode ler-se que o negócio é visto com muito bons olhos pela organização e como tendo enormes benefícios para a PIR e a própria Internet Society, permitindo que ambas continuem estáveis no longo prazo e a desenvolver a sua visão no sentido de uma internet aberta para todos, numa escala cada e maior. No mesmo comunicado é dito ainda que a PIR continuará a expandir a sua missão e deverá manter o .org acessível e a um preço razoável.

“Today’s news has tremendous benefits for both the Internet Society and PIR. The transaction will help the Internet Society to secure its future through more stable, diversified and sustainable financial resources than it has at present, allowing the organization to plan for the long term and advance its vision for an internet for everyone on an even broader scale. It will also enable PIR to continue expanding its mission and important work under new ownership- including its goal of keeping .org accessible and reasonably priced- while further strengthening and deepening its commitment to the .org community”.

Apesar de aquando do levantamento do limite do preço, a PIR ter garantido não ter planos para o aumento do preço do domínio, a Ethos Capital ainda não se pronunciou sobre aquele que a partir de agora pode passar a ser um negócio com fins lucrativos, ainda que no comunicado tornado publicado o CEO da empresa assuma o compromisso em dar continuidade ao trabalho e às parcerias desenvolvido pela PIR até aqui.

Marc Rotenberg, presidente da Electronic Privacy Information Center e um dos membros fundadores da PIR, foi uma das vozes que se fez ouvir contra o negócio. Ouvido pelo Gizmodo, diz que o .org foi criado com o objectivo específico de promover a utilização não comercial da internet e que haverá perdas ao nível da transparência com a passagem da PIR para uma empresa de capitais privados. Já George Kirikos, um observador da ICANN, ouvido pela mesma publicação, revelou que a possibilidade deste negócio já estava expressa na renovação do contrato feita em Março deste ano.

Também Elliot Harmon, da Electronic Frontier Foundation – uma das organizações de referência na promoção da equidade de acesso online –, revelou publicamente o seu descontentamento. Para Elliot, a manutenção do limite de preço à comercialização do domínio e a sua gestão por uma organização sem fins lucrativos eram algo importante para este tipo de organizações e esta decisão devia deixá-las chateadas. Esta leitura prende-se como o facto de, tal como anteriormente mencionado, o limite no preço ser uma forma de permitir um acesso equitativo aos domínios e que não estivesse sujeito a flutuações em função da procura algo que pode mudar nos próximos tempos, sujeitando a procura por .org às leis do mercado.

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  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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