Yo escribo, Vós dibujás: o teatro experimental em cena no novo TBA

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Yo escribo, Vós dibujás: o teatro experimental em cena no novo TBA

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Neste final de ano entre outros espetáculos está em cena Yo escribo, Vós Dibujás do vanguardista encenador e realizador de cinema argentino Frederico Léon.

O Teatro do Bairro Alto tem uma nova vida como teatro municipal desde início de Outubro, depois do fim da Cornucópia no final de 2016. Completamente remodelado receberá uma programação de cariz “experimental, emergente e internacional” na linha do que se podia acompanhar no Maria Matos encerrado desde final de 2017.

Neste final de ano entre outros espetáculos está em cena Yo escribo, Vós Dibujás do vanguardista encenador e realizador de cinema argentino Frederico Léon, que esteve em 2016 no festival Alkantara com Las Ideas, onde abordava o processo criativo desde a transformação da ideia abstracta num objecto concreto.

Desta vez Frederico Léon apoia-se no conceito de sincronicidade de Carl Jung, as “coincidências significativas”, para fazer o espectador-participante questionar-se sobre a sua capacidade de analisar os eventos individuais no grande plano. Num cenário que poderia ser de feira popular, cerca de 20 actores movimentam-se em cena executando múltiplas tarefas bizarras desprovidas de significado e ligação entre elas, podendo o espectador movimentar-se livremente a observar o que mais o cativar até que com uma pequena ajuda tudo começa a mudar. Nesse momento, aquilo que era desprovido de significado começa lentamente a contar uma história surreal como se tratasse de um sonho que começa a fazer duvidar o que é a realidade.

A imersão sentida durante a primeira parte torna o espetáculo uma experiência bastante proveitosa, pois enquanto se tenta juntar todas as peças e observar a acções dos actores com algum espanto, consegue-se reflectir em silêncio sobre tudo o que se passa, a aleatoriedade dos acontecimentos mundanos e a forma como o que é aleatório para o observador exterior pode ter um significado valioso para o agente que vive o acontecimento.

Numa segunda parte somos levados para uma espécie de sessão de esclarecimento de tudo o que se assistiu que não funcionando mal acaba por acrescentar pouco ao espetáculo, dando-lhe um carácter demasiado expositivo e constrangindo as diversas interpretações que cada espectador poderia ter retirado por si.

Toda a obsessão da peça com a sincronicidade tem ecos na sociedade actual em que com a perda de influência das religiões tradicionais, vemos cada vez mais pessoas na procura de um significado para a aleatoriedade da vida em fenómenos como a astrologia, que procuram dotar de sentido tudo o que acontece a nível individual, mesmo que seja puro acaso.

Sai-se de Yo escribo,Vós Dibujás com o sentimento de que o Teatro do Bairro Alto está bem entregue e que o teatro experimental encontrou uma excelente casa para satisfazer os seus apreciadores. Se quiseres ter a mesma experiência o espéctaculo estará em cena entre o dia 29 de Novembro e o dia 1 de Dezembro, com sessões às 21h30 na sexta e no sábado e às 17h30 no domingo.

 

 

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  • Edgar Almeida

    Estudou Economia e trabalha para uma grande empresa para manter os seu vício pelo quotidiano. Tem sangue emigrante e define-se como urbano-serrano. Gosto de escrever sobre arte, entretenimento, economia e política.

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