29 discos de 2009 que vale a pena recordar

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29 discos de 2009 que vale a pena recordar

Discos com mais de 10 anos.

2009 fica lá bem atrás, foi há 10 anos. Virada agora a página no capítulo de 2019, faço uma retrospectiva do que se ouvia de bom uma década antes.

Legendary Tigerman – Femina

E se Femina tivesse saído em 2019? Provavelmente juntar todas estas mulheres não teria tido tanto impacto. A verdade é que o 5º disco de Legendary Tigerman é percursor daquilo que haveria de ser as discussões sociais dos seguintes dez anos. Ainda hoje será o seu disco mais ambicioso e o registo não seria tão impactante se o materialmente não fosse de facto bom.

Diabo na Cruz – Virou!

Há uns poucos anos, voltei a deparar-me com “Bom Tempo” e a letra levou-me a 2009, o melhor ano da FlorCaveira – o da estreia da Amor Fúria, o de João Coração, Samuel Úria e B Fachada – e ocorreu-me que o “bom tempo” se referia à falta de vergonha perante a nossa língua na hora de compor uma canção, uma coisa que há muito não se via neste país. Dito isto, não faço ideia se finalmente entendi o disco, mas em 2009 como em 2019 é um prazer voltar a este retrato.

Real Estate – Real Estate

Quanta nostalgia implícita nestes miúdos de 20 e poucos anos. Ultrapassados pelos Verões que aqui recuperam, os Real Estate carimbam uma das melhores estreias de 2009.

Cass Mccombs – Catacombs

Morre um golfinho de cada vez que se compara um escritor de canções a Bob Dylan e terá sido precisamente isso que aconteceu no arranque da carreira de Cass Mccombs. Catacombs faz parte do processo de maturação do músico que já está ao nível do melhor que escreveu com “Dreams Come True Girl”.

jj – jj n.º 2

Fascinante e misterioso documento este que já ninguém se lembra, mas que tem nesta efeméride a oportunidade de o descobrir. Do pouco que se conhece sabemos que eram daquela leva sueca que marcou a década passada. De resto é de desconfiar que a história deste colectivo não seja tão interessante quanto a música que tem para mostrar. Entre outras coisas, há um exotismo que lhes permite misturar sons africanos, hip hop, folk e um sample de Lil Wayne.

Atlas Sound

Há poucas colaborações em 2009 que façam tanto sentido como a que junta a dupla “ox”, ou seja, Bradford Cox e Noah Lennox (Panda Bear) em “Walkabout”. À imagem dos Deerhunter, os discos dos Atlas Sound têm tudo para passar ao lado, mas há ali um lado melodioso que o embrulha e oferece a um público mais vasto.

https://youtu.be/RwjUyrp7-aI

Mayer Hawthorne – A Strange Arrengement

Numa altura em que proliferavam os copistas de Amy Winehouse, há uma nova soul que emerge e que inclui Jamie Lidell, Sharon Jones e Mayer Hawthorne, um tipo meio incompreendido e que, apesar de apontadas limitações técnicas, assinou um dos mais distintos registos do ano.

Fool’s Gold – Fool’s Gold

Recordemos que em 2009 era trendy trazer África para o Ocidente. E ao 1º tema quase somos enganados, pois há a tal influência do continente africano que regressa a espaços. Mas a verdade é que os Fool’s Gold englobam o mundo toda no continente americano: o grupo mistura elementos da cena de Los Angeles, gente da América Central e do Sul e um nascido em Israel. O resultado, claro, é diverso e dos mais entusiasmantes que o Ocidente ouviu em 2009.

Health – Get Color

Há nos Health uma ideia de noise acessível. Uma banda a que facilmente daríamos o rótulo de experimental, mas que, graças a melodias acessíveis qb, consegue furar e chegar a um público mais alargado. É ouvir “Die Slow”.

Memory Tapes – Seek Magic

A chillwave faz dez anos e o seu melhor representante de 2009 é a estreia de Memory Tapes, projecto de Dayve Hawke, ele que já se tinha chamado Memory Cassette. Valha-lhe a nostalgia que o género que, com pares Neon Indian e Washed Out, marcou o ano. Mas nenhum com o impacto deste Seek Magic.

Girls – Album

Tal como Lana Del Rey mais recentemente, os Girls da estreia são peritos em citações literais a títulos e expressões pop. De cabeça: “Lust for Life” e “Nothing Compares to You”. Essa ideia de citação estende-se ao resto do disco que é um extraordinário compêndio da história da pop. Magnífico.

Batida – Dance Mwangolé

Com livre acesso aos arquivos angolanos das décadas de 60 e 70 da Valentim Carvalho, a estreia do projecto de Pedro Coquenão torna-se numa espécie de irmão mais recatado dos Buraka Som Sistema, que, entretanto, iam conquistando o mundo. Os ritmos explorados são completamente diferentes, inevitavelmente mais tradicionais, mas com a mesma vontade de fazer um som contemporâneo.

Jay Reatard – Watch Me Fall

Inevitável dissociar estas canções da tragédia que se seguiria em Janeiro de 2010, com a morte de Reatard. Parecem autênticos pedidos de ajuda de um tipo que se podia ter transformado numa espécie de Ty Segall, ele que na altura estava a dar os primeiros passos.

Bibio – Ambivalence Avenue

Numa altura em que tanto se destaca a fusão entre country e hip hop promovida por Lil Nas X, vale a pena recuperar dois discos que maioritariamente habitados por folk, mas com nuances hip hop: o homónimo dos Monsters of Folk e principalmente este Ambivalence Avenue.

Dinosaur Jr. – Farm

Mais um disco em que os Dinosaur Jr. não só fingem ser jovens, como soam como tal. Cabelos compridos, volume bem alto e um vídeo de skates. Uma segunda vida tão boa como a primeira? Raro.

Manic Street Preachers – Journal for Plague Lovers

Incrível como as letras de Richey Edwards transformam os galeses. Parecem combustível para o som que há muito não era tão relevante. Será este disco o melhor de todos os do Manics?

Antony & the Johnsons – The Crying Light

Antony convidou Nico Muhly e os seus arranjos orquestrais com o objectivo de não repetir a papel químico o som que o tirou do anonimato. Dos Hercules & the Love Affair à mudança de identidade, viríamos a perceber que Hagarthy se sente confortável nessa posição camaleónica.

The Pains of Being Pure at Heart – The Pains of Being Pure at Heart

Há um comentário no YouTube que diz tudo e vai assim: “Can’t believe this album is almost 10 years old. It was supposed to bring nostalgia for the 80s twee pop. now it brings the nostalgia for the late 00’s?”. Esta ideia é bem capaz de nunca ser unânime, mas os The Pains of Being Pure at Heart protagonizam uma das mais despretensiosas estreias da primeira década do século XXI. Miúdos a escrever sobre problemas de miúdos, com vídeos Super 8 que incluem os próprios a fazer as coisas que mais gostam, o que basicamente são coisa de miúdos, enfim, hipsters, na falta de melhor termo.

Animal Collective – Merriweather Post Pavillion

Não deixa de ser curioso que as harmonias dominem em anos consecutivos: os Fleet Foxes terão sido unânimes autores do disco de 2008; mas, enquanto a banda de Seattle importa um sentido revivalismo, os Animal Collective inspiram-se num som antigo (em última análise, o psicadelismo) e trazem-no para o presente e, veríamos depois, para o futuro. Aliás, é quando Deakin, homem das guitarras, decide avançar para um hiato que os outros três decidem avançar para uma coisa mais próxima do que Panda Bear tinha feito com excelentes resultados em Person Pitch.

Fever Ray – Fever Ray

Fruto da recém-paternidade, vou lendo artigos sobre o assunto. Um deles destacava a hora de maior isolamento para a mãe: as três da madrugada. É a isso que, empurrado pelas poucas entrevistas e atentando às letras, me soa Fever Ray: noites mal dormidas, dias e horas que se limitam a passar, a frustração perante uma criança que, sem rotinas, não percebe que à noite é para descansar. Enquanto deambula na escuridão, Karin Dreijer Andersson pega num assunto tão humano como a parentalidade e documenta-o de forma tão bizarra quanto possível.

Macacos do Chinês – Ruídos Reais

A estreia dos Macacos do Chinês (MdC) explora em várias ocasiões essa ideia de referências geracionais: aquela Reboleira, o Babilónia, o dubstep e o grime. São várias as alusões a um tempo específico: 2009. O TGV, o Tal & Qual, a eleição de Obama, Dica da Semana, vídeoclips na MTV, a Al-Qaeda, o jornal Metro e até Os Contemporâneos via participaçao d’O Chato. Reparem como todas estas coisas acabaram ou mudaram por completo. A temporada 2008/2009 já nos vinha habituando: o panorama português era tão pobre que estava quase tudo por fazer. Não é por acaso que o disco arranca tão provocante e até com uma confiança que pode ser confundida com arrogância. FlorCaveira, Amor Fúria e Enchufada iam comandando a revolução.

Wavves – Wavvves

Até 2009, a preguiça dos Wavves vai até à forma como baptizam dos discos: acrescenta-se um “v” e siga. Wavvves, pois então, segue na linha da progressiva “popização” da banda. À imagem dos Pains of Being Pure at Heart (TPOBPAH), começa a existir uma preocupação com a melodia, mas com vários efeitos potencialmente inaudíveis, mas os Wavves derivam para o noise, os TPOBPAH para o shoegaze. “Going nowhere”, “You see me I don’t care” e “I’m so BORED” são expressões cantadas como se de um triunfo se tratasse e esta forma de estar dos Wavves estende-se aos vídeos de miúdos a fazer coisas de miúdos num constante combate ao tédio. Na verdade, segundo esses vídeos, Nathan Williams e companhia parecem fazer muito pouca coisa: vão à praia, andam de skate, fumam charros. Daí o aborrecimento, tipo…

Grizzly Bear – Veckatimest

Todos enganam na forma como oferecem singles imediatos que escondem discos complexos. Os Grizzly Bear, por exemplo, usam as harmonias “Two Weeks” como isco para nos pescar para o resto que exige mais paciência. Curiosidade: o unanimemente (trocadilho não intencional com “meme”) macabro vídeo do single antecipa de certa forma os filtros de Snapchat. Mas, embora os consigamos colar aos caminhos folk que Fleet Foxes e Bon Iver iam trilhando, os Grizzly Bear eram mais ligados a uma outra e nova estranha América psicadélica, passe a redundância: a dos Animal Collective (AC), Dirty Projectors e Yeasayer – todos, à excepção dos AC, de Brooklyn.

Os Golpes – Cruz Vermelho Sobre Fundo Branco

O revivalismo pós-punk teve dificuldades em entrar em Portugal. E se descontarmos o cantado em inglês (cof cof, X-Wife), não sobrará quase ninguém. Mas reduzir a banda a uma coisa tão efémera e que na altura já definhava seria injusto. A banda, como boa parte das coisas editadas pelo tal eixo FlorCaveira-Amor Fúria, tem ambições de mexer com o país e eventualmente com o mundo. Há meses, no concerto de celebração de 10 anos de IV, de Tiago Guillul, Manuel Fúria brincava (ou não) com essa ideia de domínio global e faz sentido socorrer-nos do épico “A Marcha dos Golpes” para sustentar esta ideia. Canta Fúria: “golpe a golpe inventamos Portugal”.

Dirty Projectors – Bitte Orca

Bitte Orca acaba por ser único e irrepetível na discografia dos Dirty Projectors por dois motivos: a surpresa de incluir e dar protagonismo a Amber Coffman e Angel Deradoorian, isto sem retirar os méritos a Dave Longstreth que no fundo será o cérebro disto tudo. Mas é feliz que tenham sido elas a ficar imortalizadas na capa do álbum pois são elas que o tornam imprescindível. Entre as harmonias na maior parte das canções e o protagonismo nas outras, a influências delas é decisiva naquilo que será o melhor disco de 2009.

Arctic Monkeys – Humbug

Humbug é diferente do que tinham feito até aí em tudo. É mais pausado, sim, mas também mais negro e dá início a uma fase mais cerebral da banda. É o momento em que parecem ter consciência que ganharam uma voz e já se podem deixar a timidez de parte e explorar a faceta de heróis, tal como os Strokes o eram para eles em 2005.

Samuel Úria – Nem Lhe Tocava

Numa entrevista ainda disponível na net, diz ser apreciador de uma “sonoridade rasca típica de um tipo imperfeito” como ele (e não será por acaso que chamou ao EP anterior Em Bruto), mas que teve que sacrificar aqui porque surgiu a oportunidade de gravar em estúdio, com Tiago Cavaco na produção. E peguemos em Cavaco/Guillul precisamente: embora dê ideia de ter aberto caminho a Samuel Úria, a verdade é que o tondelense acabou por reclamar um lugar só seu.

B Fachada – B Fachada

Se Samuel Úria menciona uma ideia de som crú que teve que abdicar, o mesmo se pode dizer do som de B Fachada, pois a espontaneidade já só se manifesta nestas letras que talvez hoje, dez anos depois e com a poeira assente, possam conhecer o crédito que merecem, principalmente da parte do público (a crítica aclamou-o) que entretanto já não tem aqui um fenómeno para combater. Em 2019 é mais Conan Osiris e, por estes dias, Greta.

The xx – xx

Se Burial partiu da luz para a escuridão e criou a banda sonora perfeita para uma Londres by night, os xx partiram de um negro que vai da roupa à expressão facial dos quatro elementos (parece-nos mais timidez que pose) e que inevitavelmente acaba nas canções que a imprensa chegou a insinuar serem sobre a vida sexual dos quatro elementos. Lá está a influência r&b a vir ao de cima. Mas importa esclarecer que as letras não são assim tão explicitas e isto no fundo parecem ser canções sobre intimidade e as emoções que daí advêm. E assim, carregados de mistério (outra cartada que Burial leva ao extremo), mas com um som surpreendentemente transversal que chega aos alternativos, ao mainstream e a celebridades como Rihanna que samplou “Intro”, eventualmente a canção mais icónica da banda.

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