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As relações entre Irão e Estados Unidos da América são desde há muito tempo uma das mais prementes em todo o globo. Se Obama ainda forjou uma aproximação entre as duas potências, Donald Trump guinou em sentido contrário desde os primeiros dias da sua presidência e assim tem continuado.
Os acontecimentos dos últimos dias, nomeadamente a morte do General Qassem Soleimani, são apenas o último desenvolvimento de um cortar de relações que já tinha tido outros momentos importantes como em 2018, quando Trump rasgou o acordo nuclear estabelecido em 2015 entre EUA, Rússia, China, França e Reino Unido, Alemanha e Irão e voltou a aplicar sanções económicas àquele país.
Se tudo isto se foi passando entre gabinetes e Twitter, desde a escalada de tensão com a morte de um dos homens mais importantes na hierarquia política iraniana, a rede social que implica limite de caracteres tem ganho uma grande preponderância – bem como os anúncios no vizinho Facebook, como reporta o BuzzFeed News.
IRAN WILL NEVER HAVE A NUCLEAR WEAPON!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 6, 2020
Numa espécie de diplomacia em 240 caracteres, Trump tem substituído os encontros bilaterais e até a comunicação com o Congresso por tweets, numa abordagem que lhe é característica mas que não deixa de ser surpreendente pela gravidade da situação. Já os líderes iranianos têm respondido na mesma rede social utilizando até a hashtag #SevereRevenge para antecipar possíveis retaliações.
His efforts & path won’t be stopped by his martyrdom, by God’s Power, rather a #SevereRevenge awaits the criminals who have stained their hands with his & the other martyrs’ blood last night. Martyr Soleimani is an Intl figure of Resistance & all such people will seek revenge. /3
— Khamenei.ir (@khamenei_ir) January 3, 2020
Entre tweets belicistas e dirigidos ao Irão, pontualmente na conta de Donald Trump surgem também tweets sobre as boas relações com a Arábia Saudita e retweets da Fox News e de outros políticos que lhe dão razão neste ou noutros assuntos – como o afamado impeachment (que depois do ataque perpetrado pelos Estados Unidos passou para segundo plano). De resto, este particular da história assemelha-se ao ano 1998, quando Clinton ordenou um ataque ao Iraque e se viu a braços quando um processo do mesmo tipo.
Great interview with @GOPLeader Kevin McCarthy on @foxandfriends. “There was no urgency with the Articles of Impeachment because there was no case.”
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 7, 2020
Desde o dia da morte de Soleimani, 3 de Janeiro, que a conta de Trump não tem parado por muitas horas, criando uma espécie de reality show da política externa norte-americana, que, conforme se pode supor pelos comentários em resposta, parece agradar a muitos dos seus apoiantes. Até o último acontecimento, a reacção ao ataque iraniano a duas bases militares norte-americanas no Iraque, foi feito em directo no Twitter, com o anúncio de um comunicado formal para breve.
All is well! Missiles launched from Iran at two military bases located in Iraq. Assessment of casualties & damages taking place now. So far, so good! We have the most powerful and well equipped military anywhere in the world, by far! I will be making a statement tomorrow morning.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 8, 2020
Foi no Twitter que Trump justificou o ataque, ameaçou novos ataques de outros tipos – nomeadamente a sites – e reiterou a sua retórica. Se, como dizia Marshall McLuhan, o meio é a mensagem, uma guerra (que para todos os efeitos já o é) a decorrer em pleno Twitter mostra como esta é interessante para os interesses de Trump, que não procura qualquer discrição.
Na rede social também já começou a circular a hashtag #TrumpWarOfMassDistraction, acompanhando tweets que sublinham a ideia de que tudo não passa de uma estratégia política orquestrada por Trump. A dar força a esta ideia estão as suas declarações em 2012 quando disse que Obama poderia começar uma guerra com o Irão para ser re-eleito.
The United States just spent Two Trillion Dollars on Military Equipment. We are the biggest and by far the BEST in the World! If Iran attacks an American Base, or any American, we will be sending some of that brand new beautiful equipment their way…and without hesitation!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 5, 2020