É altura de acabar com o horário de trabalho das 9h às 18h

Procurar
Close this search box.
Foto de Dylan Gillis via Unsplash

É altura de acabar com o horário de trabalho das 9h às 18h

A democracia precisa de quem pare para pensar.

Num ambiente mediático demasiado rápido e confuso, onde a reação imediata marca a ordem dos dias, o Shifter é uma publicação diferente. Se gostas do que fazemos subscreve a partir de 2€ e contribui para que tanto tu como quem não pode fazê-lo tenha acesso a conteúdo de qualidade e profundidade.

O teu contributo faz toda a diferença. Sabe mais aqui.

Trabalhar menos horas também pode ser uma forma de minimizar a pegada ecológica e responder aos desafios da crise climática.

No Japão, a Microsoft testou a redução da jornada semanal de trabalho e a produtividade aumentou em 40%. Na Finlândia, a Primeira-Ministra mais jovem do mundo mostrou interesse em avançar com semanas de 4 dias de trabalho no país. A riqueza produzida por cada trabalhador, com a mudança tecnológica e a automação, subiu 430% desde 1960, contudo, trabalhamos as mesmas horas. A jornada de trabalho de oito horas diárias foi conquistada com recurso a grandes lutas em 1919. Estamos no século XXI e passaram 100 anos.

Nas duas últimas décadas, com a financeirização da economia e com o ressurgimento do capitalismo de laissez-faire, a flexibilização da legislação laboral, na ausência de uma fiscalização efectiva e reguladora do mercado, permitiu um crescimento sem precedentes das relações de trabalho precárias, esgotando o tecido social das nossas sociedades e abrandando a capacidade produtiva.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no seu relatório bianual dedicado à economia portuguesa, alerta para a necessidade de se adoptarem mudanças que promovam a produtividade e admite que o índice de bem-estar subjectivo é baixo. Um dos domínios de análise do bem-estar, é o balanço vida-trabalho, ou seja, a avaliação da conciliação do tempo atribuído à família e ao trabalho. Portugal ocupa 14ª posição no ranking de países que mais trabalham, em média, por ano.

Arrisco dizer que hoje as pessoas trabalham mais do que alguma vez trabalharam, principalmente devido à banalização do telemóvel, que nos permite ter acesso ilimitado ao e-mail, por exemplo. Um adulto, grosso modo, gasta um terço do tempo a dormir, outro a trabalhar, sobrando um terço para uma série de outras actividades como deslocações, tarefas domésticas, desporto e lazer.

Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostram que países com salários baixos têm uma carga horária superior à dos países onde os salários são mais altos. A investigação aponta como factores justificativos o medo de ser despedido, de perder a autonomia, o estatuto, o valor da renumeração e factores culturais.

A redução do horário de trabalho é uma prática difícil de implementar, porque existe uma cultura empresarial que beneficia as horas de trabalho, em vez dos resultados obtidos.

Um estudo da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), em parceria com o McKinsey Global Institute e a Nova SBE, afirma que com a evolução tecnológica poderá levar à eliminação de 1,1 milhões de empregos em Portugal até 2030. A OCDE, instituição liderada por Angel Gurría, aconselha Portugal a empenhar-se no sentido de reintegrar os trabalhadores desempregados no mercado de trabalho, acção possível através de uma racionalização do horário de trabalho.

Em 2015, a Suécia testou a redução a jornada de trabalho de 8 para 6 horas diárias, sem redução salarial. Os resultados são claros: impacto positivo e significativo na saúde física e mental, redução de faltas justificadas e injustificadas e maior produtividade, são alguns dos exemplos. De facto, algumas empresas foram obrigadas a contratar novos trabalhadores, mas outras garantiram que essa situação não se revelou, já que os trabalhadores se tornaram mais eficientes.

Trabalhar menos horas também pode ser uma forma de minimizar a pegada ecológica e responder aos desafios da crise climática. Na experiência testada pela Microsoft, assistimos a uma poupança de electricidade a ultrapassar os 20% e menos 59% de páginas impressas. Reconfigurando as nossas convicções sobre todo o sistema económico e social, assistiríamos a uma redução no consumo de material e energia.

Texto de Diogo Cordeiro. O Diogo é gestor de compras públicas, graduado em relações internacionais.

Índice

Subscreve a newsletter e acompanha o que publicamos.

Eu concordo com os Termos & Condições *

Apoia o jornalismo e a reflexão a partir de 2€ e ajuda-nos a manter livres de publicidade e paywall.

Bem-vind@ ao novo site do Shifter! Esta é uma versão beta em que ainda estamos a fazer alguns ajustes.Partilha a tua opinião enviando email para comunidade@shifter.pt