O online dating veio mesmo para ficar

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Foto de Pratik Gupta via Unsplash

O online dating veio mesmo para ficar

Por esta altura, podemos afirmar que a bolha que em tempos eram as aplicações de encontros explodiu e atingiu toda a sociedade (mesmo os que nunca tiveram um perfil numa destas apps, conhecem alguém que sim).

As aplicações e sites de online dating crescem como cogumelos, naquilo que no fundo é uma simples resposta do mercado à clássica lei da oferta e procura – com o Tinder a assumir o papel de líder do mercado vencendo aplicações generalistas como o Badoo, Happen, Coffee Met Bagel, aplicações de nicho como o Grindr. Por esta altura podemos afirmar que a bolha que em tempos eram as aplicações de encontros explodiu e atingiu toda a sociedade (mesmo os que nunca tiveram um perfil numa destas apps conhecem alguém que sim).

Como as aplicações online estão a mudar a economia

Longe vão os tempos em que o “amor à primeira vista” pontuava o panorama romântico, e os casamentos aos 18 anos com o primeiro namorado eram comuns. Com a facilidade que existe hoje em dia para se conhecer novas pessoas, saber (dentro do possível) quem essa pessoa é, e se gostamos das mesmas coisas ou não, somada às dificuldades económicas com que os jovens têm de lidar, a decisão de comprar casa, casar, ter filhos e decidir passar o resto da vida com “aquela pessoa”, começou a ser adiada para idades mais avançadas, onde há uma maior maturidade.

Como com todas as grandes mudanças na forma como a sociedade se comporta, existe uma relação causa-efeito que leva a que consequente hajam mudanças na economia. Por um lado, na teoria, isto significa que este tipo de decisões são tomadas com mais sabedoria e experiências passadas, ou seja, existe uma maior certeza do que se está a fazer; por outro, o caminho durante todos esses anos leva a um maior número de encontros, mais jantares fora à luz das velas, idas ao cinema e viagens românticas a Paris. Em síntese, o novo perfil das relações gerou novos perfis de consumidores. Compradores de casa mais tardios e fãs de primeira linha das companhias de aviação low-cost.

Como a tecnologia está a mudar os encontros

Em tempos a resposta mais comum à pergunta “como é que vocês se conheceram?“ seria: “através de amigos em comum”, “através da família”, “na escola”, “numa festa”, etc. No entanto, sobretudo na última década, o “online” tem vindo a evidenciar-se exponencialmente e, como uma flecha lançada pelo cúpido, tornou-se uma das formas mais comuns de os casais atualmente se conhecerem.

Tudo começa com alguma timidez e um “estou apenas a ver”, que em pouco tempo se transforma num jogo de swipes e matches, baseado num perfil que demorou uma vida a ser criado (no fundo, as fotos, o texto ou a música que decidiste colocar é o melhor resumo que escolheste dar ao mundo sobre quem tu és), e microssegundos a ser avaliado.

Se, por um lado, todos ganham uma maior opção de escolha e viram o mundo de possíveis pares românticos a mudar das centenas de pessoas com que nos cruzamos durante a vida, para as milhares que estão num raio de alcance relativamente perto da nossa área de residência, por outro, a quantidade de opções de escolha criou um vazio e deu uma insignificância ao momento em que conhecermos alguém (online).

A mesma pessoa que, em tempos, decidiu criar, de forma tímida, um perfil numa rede de encontros online, vê-se agora com centenas de matches que estão apenas a meio do processo de filtragem.

Para os que não estão familiarizados com este novo mundo, o processo é mais ou menos o seguinte: Primeiro cria-se um perfil com “aquelas” fotos que achamos melhor mostrar quem somos (ou que tenham maior probabilidade de atrair mais matches); tendo o perfil sido criado, está na altura de “jogar o jogo” e decidir, entre as milhares de opções que vão surgindo, quem gostamos e queremos apurar para a “fase seguinte” – se a outra pessoa informar o algoritmo que também gosta de nós, voi lá, temos um match!; nesta altura, entramos na fase em que começam a surgir as primeiras conversas, onde algumas são interessantes mas a maioria aparece sobre a forma de um criativo e repetitivo “Olá, tudo bem?”; chegaste até aqui e descobriste a pessoa com quem houve uma empatia brutal? Boa, está então na altura de marcar um encontro, conhecerem-se pessoalmente e voltarem para casa com a sensação de que “ainda não é o/a tal” enquanto entretanto o/a Carlos/Carla, que até parecia interessante, está a perguntar se tens planos para amanhã.

As aplicações de encontros são aquilo que TU queres que sejam

Elas existem e estão em todo o lado, no entanto, a sua finalidade depende apenas de ti e daquilo que procuras. Seja para encontrar o amor da tua vida, explorar os mais obscuros prazeres carnais, conhecer pessoas novas, fazer amigos ou arranjar um guia turístico que te mostre a cidade… a quantidade de pessoas tão diferentes umas das outras, faz com que encontres aquilo que procuras.

Este tipo de aplicações veio para ficar e o melhor a fazer é perceber como funcionam, de que forma estão a mudar o mundo e a partir daí ignorar ou tirar o proveito pessoal, tendo sempre presente a ideia de que por muito que estas aplicações evoluem não emulam a experiência real. A possibilidade de do outro lado estar um catfish (perfil falso) ou alguém com segundas intenções diferentes das nossas é real e não é tão perceptível quando num encontro 1 on 1. Por isso, se fores a lição é simples: não há nada de errado em usar aplicações de dating e, de facto, elas podem tornar o processo mais fácil, colmatando as dificuldades de socialização que o advento das redes sociais trouxe para as nossas vidas; contudo, é preciso ter cuidado e desconfiar de tudo o que possa parecer demasiado rápido ou demasiado bom, como se no fundo a internet fosse um jogo de sombras escondendo imagens reais impossíveis de descodificar com exactidão.

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Índice

  • Marco Cotas

    Nascido e criado em Coimbra, onde se encontra a estudar Marketing e Negócios Internacionais. Apaixonou-se pela escrita, é amante de cafés e tem um relacionamento sério com a literatura. Escritor favorito: Ernst Hemingway. Livro favorito: Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

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