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No terceiro RADAR, vamos ao Reino Unido que saiu da União Europeia e ao Trump que não vai deixar de ser Presidente dos Estados Unidos da América. Passamos ainda pela Ucrânia – à boleia do Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo –, pela Venezuela, Argentina, França, Espanha, pelos Luanda Leaks entre Angola e Portugal, e, por fim, pelos protestos que não terminam no Iraque.
Podes ler os primeiros RADAR aqui.
Brexit
1317 dias depois de uma consulta popular ditar a saída do Reino Unido da União Europeia, centenas de manifestações, dezenas de rondas negociais, e duas mudanças na liderança do país, chegou finalmente o dia do Brexit. Depois de David Cameron convocar o referendo, ver a permanência que defendia derrotada e abandonar o cargo, depois de Theresa May conduzir sem sucesso um processo de negociações que parecia interminável e a desgastou até à sua demissão, foi Boris Johnson – seu sucessor na liderança dos Tories – quem se encarregou de, literalmente, despachar o assunto, cumprindo o que prometera em campanha.

A partir de dia 31 de Janeiro de 2020 ficou, assim, consumada a saída do Reino Unido da União Europeia, seguindo-se agora um processo que se adivinha extenso e complexo de negociações sobre os acordos comerciais que farão a ponte dentre as terras de sua majestade e o bloco da União. Boris Johnson já disse que quer um acordo semelhante ao que a União tem com o Canadá; já a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, sublinhou que tudo tem um preço e este processo não será excepção.
A consumação do Brexit representa, para já, uma quebra dos protocolos institucionais que mantinham as duas partes ligadas. Na prática, a nível político decorre a saída dos 73 eurodeputados britânicos eleitos para o Parlamento Europeu, e a cessação dos mandatos dos três juízes britânicos no Tribunal de Justiça da UE. Quanto aos efeitos práticos para os cidadãos, os acordos deverão ser discutidos até ao final de 2020, data na qual termina o acordo de livre circulação vigente entre Reino Unido e União Europeia. Por agora, há um período de transição e mantém-se tudo mais ou menos na mesma. Os cidadãos da UE residentes no Reino Unido devem vir aqui saber qual o procedimento que devem seguir.
Meanwhile in America…
A política interna nos Estados Unidos da América terá em 2020 um ano agitado e o começo foi a melhor prova disso. Janeiro ainda foi moderadamente pacífico mas Fevereiro abriu com grandes eventos políticos, desde logo a votação do Impeachment de Donald Trump e o arranque das primárias no Partido Democrata, no estado do Iowa.
Apesar de merecer destaque pelo acontecimento, o Impeachment de Trump quase nem merece notícia tal foi a previsibilidade do seu desfecho. Os artigos para a destituição do actual Presidente dos Estados Unidos da América foram votados no Senado, onde a maioria é republicana, e graças à disciplina de voto partidarizada, Trump acabou ilibado das acusações de que era alvo. Para além da absolvição, Trump aproveitou o momento para forjar mais um capítulo da narrativa do nós vs eles, acusando os democratas de terem tentado demovê-lo do lugar.

Já as primárias nos Democratas começaram iguais a si próprias. Se nas últimas eleições, os famosos DNC LEAKS – alegadamente feitos por hackers russos – levaram à demissão da responsável dos ‘dems’ no abrir das conferências do partido; desta feita, ao primeiro Estado em primárias surgem as primeiras confusões e volta a pairar o fantasma dos hackers.
O estado do Iowa foi o primeiro convidado a votar para escolher entre os 11 candidatos democratas e, passados quatro dias, ainda não existem resultados oficiais – os provisórios dão Pete Buttigieg em 1º com 26,2% dos votos e Bernie Sanders em 2º com 26,1. De qualquer forma, estas eleições ficam marcadas por diversos erros. No centro das atenções – e dos erros – está uma aplicação para telemóvel criada para facilitar a comunicação dos resultados, que acabou por revelar as falências no pior momento.
Viagem de Guiadó pela Europa
Violando a proibição de sair do país, Juan Guaidó, o auto-proclamado Presidente Interino da Venezuela, decidiu fazer uma viagem pela Europa. Teve como objectivo reunir apoios no seio da União Europeia para resolver o impasse venezuelano.
No final de Janeiro, viajou para a Europa e começou no Reino Unido, onde reuniu com membros do Governo britânico, que já lhe mostrou apoio. Aproveitou para marcar presença em Davos, onde pediu aos líderes mundiais que o reconheçam como Chefe de Estado e o ajudem a “reintegrar a Venezuela na economia global”.

Também foi recebido em Bruxelas, para um encontro com o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrel. Acabou a digressão em Espanha, onde esteve envolto em polémica, porque Pedro Sánchez, Presidente do Governo espanhol, rejeitou encontrar-se com o auto-proclamado Presidente da Venezuela. Entretanto, o membro da Assembleia Nacional venezuelana, Davd Paravisini, acusou o Governo dos EUA de pressionar os países da UE para receberem e apoiaram Guaidó.
Novo Governo peronista da Argentina
Eleito com 48% dos votos, Alberto Fernández é um rosto desconhecido na política nacional e internacional, mas é um veterano do peronismo – a corrente de pensamento nomeada em função de Juan Domingo Perón.
Há quase três décadas que actua nos bastidores do peronismo, articulando campanhas que levaram ao poder o Partido Judicialista, ao qual é filiado, tal como a sua vice-presidente eleita, Cristina Kirchner. Juntos derrotaram o até então Presidente, Maurício Macri. Alberto Fernández é considerado peça fundamental na candidatura presidencial do marido de Cristina Kirchner, Néstor Kirchner, lançada em 2003. Esta candidatura joga em oposição à corrente peronista mais à direita, que governou a Argentina na década de 1990, que fica personificada na figura de Carlos Menem e que realizou uma série de reformas neoliberais no país, abrindo-o para investimentos estrangeiros.

No discurso de tomada de posse, afirmou que “não há pagamento da dívida que possa sustentar se o país não crescer”. A questão da dívida é central para a economia argentina e Alberto Fernández defende que ela só poderá começar a ser paga quando o país crescer economicamente. Avisou que os mais ricos serão chamados a pagar “uma contribuição solidária”.
Manifestações contra a reforma das pensões em França duram há mais de um mês
Nas ruas, movimentos civis continuam a organizar manifestações contra a reforma das pensões em França. Na frente política, o Conselho de Estado arrasou o projecto, o Senado pretende abrandar o ritmo da discussão e a esquerda prepara uma moção de censura ao Governo enquanto propõe um referendo.

A 27 de Janeiro voltou a ser dia de “Jornada Nacional Interprofessional de Mobilização” contra a reforma das pensões proposta pelo executivo de Macron. Esta foi a oitava manifestação depois de terem tido 1,3 milhões de pessoas nas ruas, segundo os sindicatos, e depois de durante mais de um mês, as greves dos transportes terem sido a forma de protesto escolhida.
Não são apenas os trabalhadores a criticar o Governo de Macron. O Conselho de Estado francês, instituição independente encarregue de aconselhar o Governo, emitiu no passado dia 24 de Janeiro uma posição extremamente crítica sobre a reforma das pensões. Por seu lado, a esquerda vai apresentar uma moção de censura ao Governo em Fevereiro que juntará os “insubmissos” de Mélenchon, comunistas e socialistas.
The atmosphere in Paris where thousands upon thousands of protestors flooded the streets to mark the 63rd day of the ongoing nationwide workers' strike against the Macron government's neoliberal pension reforms. pic.twitter.com/z8uRIvRB2C
— redfish (@redfishstream) February 7, 2020
Governo independentista catalão em rotura
O Presidente do Governo da Catalunha, Quim Torra, assumiu a rotura do seu partido, Juntos pela Catalunha, com os parceiros de Governo da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). Prometeu convocar eleições regionais após a aprovação do Orçamento.
Cal posar el país i les seves necessitats per damunt de qualsevol interès i avançar cap a l’objectiu de culminar el mandat de l’1 d’Octubre retrobant-nos en la unitat. Una vegada s'hagin aprovat els pressupostos al Parlament, anunciaré la data de les eleccions pic.twitter.com/ydmtAzFQjG
— Quim Torra i Pla (@QuimTorraiPla) January 29, 2020
Os independentistas catalães assumem ter esgotado o percurso político da actual legislatura, marcada não só pela crise política e pela repressão de Estado espanhol, mas também por sucessivos impasses políticos que têm impedido a aprovação dos orçamentos nos últimos anos.
A independência é a única coisa que une estes dois partidos, mas ao mesmo tempo também terá influenciado nesta decisão. A Esquerda Republicana da Catalunha permitiu a investidura de Pedro Sánchez, apesar de o Chefe de Estado não aceitar um novo referendo para a independência, nem a aprovação de uma lei de amnistia para os dirigentes independentistas que estão presos. Para Juntos pela Catalunha, isso é uma traição à causa.