Os projectos imparáveis da comunidade em tempo de Covid-19

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Foto de Martin Sanchez via Unsplash

Os projectos imparáveis da comunidade em tempo de Covid-19

Com a pandemia anunciada, a internet e as redes sociais vêem agora nascer diversos movimentos e projetos com o objetivo de facilitar a vida em comunidade.

A recomendação em Portugal foi clara: fiquem em casa. A mensagem – repetida por políticos, figuras públicas, artistas, meros internautas – entrou nos ouvidos de tal modo que as ruas se esvaziaram e as cidades ficaram quase desertas. Não foi só cá, mas também noutros países, onde o perigo exponencial de contágio do Covid-19 exigia medidas de isolamento físico.

Com a pandemia anunciada, a internet e as redes sociais vêem agora nascer diversos movimentos e projetos com o objetivo de facilitar a vida em comunidade. Desde o alojamento local à restauração, passando pela ajuda aos grupos de risco e a desafios online: o combate ao coronavírus não pára.

Quietinho em casa

O Quietinho em Casa “é um site que nasceu da preocupação de um grupo de amigos da faculdade”, começa por explicar João Pinho, um dos criadores. A plataforma foi criada tendo em conta a dificuldade dos mais velhos “em cumprir as guidelines do isolamento social”. O projeto propõe-se, por isso, a listar os serviços de encomenda online e de iniciativas de voluntariado em Portugal continental e ilhas.

“Nós criamos um site que tem três objetivos, diz João ao Shifter. “O primeiro é o de informar, ou seja, dizer às pessoas quais são os serviços que continuam ativos durante esta altura.” O segundo ponto passa por “ensinar as pessoas a usar estas plataformas”, principalmente aquelas que não se sentem confortáveis ou capazes de utilizar a internet. Para combater isto, o grupo criou “tutoriais muitos simples para que consigam usar estes serviços”. O terceiro objetivo é o de incluir os serviços mais pequenos, criando oportunidades junto dos pequenos comerciantes e dando visibilidade a estes negócios. Por último, é importante a consciencialização e a “responsabilidade de dizer às pessoas que só devem fazer encomendas quando estritamente necessário”.

Neste momento, a iniciativa tem recebido novas propostas e apoios. Além do aumento do número de voluntários, João garante que a equipa está a melhorar a plataforma online, tornando-a mais apelativa e funcional. Sobre o aumento dos movimentos de ajuda, João Pinho considera que “estamos a ver o melhor lado da humanidade a acontecer”.

Covid.pt

Com base na colaboração de propostas e soluções, a plataforma Covid.pt nasceu para juntar ideias e testar a criatividade dos portugueses em momentos de crise. Através do site, qualquer pessoa pode submeter novas formas de resolução de desafios, ajudar a melhorar as ideias já submetidas e implementar propostas com o apoio das entidades parceiras.

“Muitos de nós estamos presos em casa, mas temos imensas ideias para resolver os desafios que estão a aparecer. Ou se calhar não temos ideias, mas somos bons a analisar as ideias dos outros e a propor melhorias. Ou talvez tenhamos meios e recursos para investir, mas não sabemos onde ou como. Esta plataforma é a possibilidade de aproveitar todo esse potencial inovador da sociedade portuguesa num processo colaborativo para encontrarmos e implementarmos soluções que façam a diferença na vida de quem mais precisa.” Assim se apresenta o projeto no site oficial.

Os desafios vão sendo escolhidos por moderadores e cada interveniente poderá propor uma possível solução. As ideias são passíveis de comentário para que se tornem mais facilmente concretizáveis e, por fim, qualquer um poderá concretizá-las. “Como podemos facilitar teleconsultas entre profissionais de saúde e a população?” e “Como podemos contribuir para o bem estar psicológico das pessoas em quarentena?” são alguns exemplos.

StayAtHome.world

StayAtHome.world é um projecto que nasceu no âmbito do tech4COVID19. Junta o Armazém Criativo, um estúdio de comunicação digital do Porto, e a FES Agency, uma agência de comunicação. Trata-se de um site simples onde qualquer pessoa pode clicar num botão e marcar-se em casa, “avançando assim com a quarentena que tem sido comunicada como uma das soluções para esta pandemia”.

“Ao estilo marked safe do Facebook, pretende-se que, através da #stayathome, cada pessoa mostre aos seus contactos mais próximos que está em casa, e desta forma motive a sua rede a fazer o mesmo”, como se pode ler em comunicado. A ligação emocional entre familiares e amigos e a rápida resposta das redes sociais são as ferramentas necessárias para ajudar na concretização da iniciativa. O objetivo é que, através da ação humana, se consiga “reduzir ao número de pessoas nas ruas e, por consequência, o risco de propagação do vírus”.

“Desenvolvemos esta ferramenta para, de uma forma simples, chegarmos às pessoas e utilizarmos as redes sociais como um veículo de propagação de mensagem. Se todos fizermos a nossa parte, mais rapidamente conseguiremos ultrapassar este momento – parte da solução pode ser a comunicação“, explica Liliana Castro, directora da FES Agency, na mesma nota.

LUGGit

“A situação atual que se vive em Portugal e no mundo é crítica e exige a cooperação de todos”, pode ler-se no site da LUGGit, uma start-up de recolha e entrega de bagagens. Perante a pandemia, a empresa alargou os seus serviços e criou o movimento #wemoveit, cujo principal objetivo é recolher bens em casa de pessoas e entregá-los na localização de algum amigo ou familiar.

Tal como outros vários projetos, o novo serviço pretende consciencializar para as pessoas não saírem de casa. “Tivemos a ideia no inicio da semana, falamos com a equipa toda da LUGGit e, em conjunto com a comunidade do tech4COVID19, conseguimos lançar esta solução, que pensamos que possa vir a ajudar algumas pessoas”, refere João Pedrosa. Para usufruir do serviço, é apenas necessário preencher um formulário e, por enquanto, só opera no Grande Porto e na Grande Lisboa.

STOP COVID-19: Campanha de angariação de fundos da GoParity

Os profissionais de saúde são os combatentes de primeira linha ao novo coronavírus. De forma a ajudar na reposição de stocks, a iniciativa tech4COVID19, que colocou várias start-ups a colaborar em projectos tecnológicos, lançou uma campanha de angariação de fundos para aquisição de equipamento médico, como máscaras, luvas e fatos de proteção. O objetivo da iniciativa STOP COVID-19 é alcançar 100 mil euros.

“Este é o primeiro projeto de muitos que se seguirão da tech4COVID19, a comunidade que conta com já mais de 1500 empreendedores e colaboradores de tecnológicas portuguesas que se voluntariaram para combater o novo coronavírus”, começa por explicar a organização em comunicado. “Segundo a Ordem dos Médicos, 20% dos infetados em Portugal são médicos que, por falta de proteção e material de trabalho, têm contacto com o vírus e acabam por ficar infetados”.

Até agora, o tech4COVID19 já identificou fornecedores para mais de meio milhão de máscaras e mais de 50 ventiladores. Qualquer pessoa pode fazer um donativo aqui, a partir de um euro. Aceita-se através de IBAN, cartão de crédito e MB Way. De realçar que “a identificação do material foi feita de acordo com orientações da Direção Geral de Saúde (DGS) e de técnicos de saúde e validada por especialistas de saúde”.

#CompraAosPequenos e Go Small Stay Home: apoiar os pequenos negócios

Diversas empresas começam já a perceber as consequências da pandemia na economia, principalmente nos pequenos negócios. Nesse sentido, nasceu o projeto #CompraAosPequenos, que tem trabalhado “diariamente com pequenos negócios e empreendedores que estão a dar os primeiros passos na construção dos seus sonhos”.

“São estes pequenos negócios que estão a sofrer mais com a situação que vivemos hoje e que, a cada dia que passa, ameaça a sua sobrevivência”, pode ler-se nas redes sociais do projeto. Aqui, é possível consultar a lista de alguns negócios locais, redes sociais, localização e ofertas. Qualquer pessoa pode adicionar novas empresas à lista.

Na mesma linha de ideias, o projeto Go Small Stay Home reúne num diretório vários negócios locais, prontos a receber ajuda. Assim, a organização criou uma lista de lojas, talhos, padarias, farmácias, entre outros espaços, prontos a operar em takeway ou entregas em casa. Incentivam também à adição de novos locais à lista.

Ajuda os profissionais de saúde através do alojamento

“Por todo o país, médicos, enfermeiros e auxiliares de ação médica estão a fazer turnos consecutivos nos hospitais para conter a propagação da COVID-19 e apoiar os doentes. Estes heróicos profissionais, por estarem em situação de risco, preferem não colocar os seus familiares e amigos em risco, necessitando de alojamentos alternativos para poder descansar”, explica numa publicação no Slack Mário Mouraz, responsável do projeto Alojamento para Profissionais de Saúde, que está a ser desenvolvido no âmbito do tech4COVID19. O objetivo é a compilação de uma lista de hotéis e unidades de alojamento local que concordem em ceder quartos a profissionais de saúde.

Para já, a iniciativa integra a procura de alojamento através de uma tecnologia de chatbot, “ou seja, quando alguém envia uma mensagem à página do Facebook, um chatbot que foi construído pela equipa guia as pessoas no processo de agendamento e faz uma pré-reserva”. Quanto à oferta, através de um formulário, as unidades de hotéis e alojamento local podem também colaborar, disponibilizando quartos.

Se quiseres oferecer dormida, então podes utilizar a plataforma Acolhe um Herói. Esta é uma “iniciativa solidária encabeçada pela uppOut que procura nada mais, nada menos, que oferecer um pouso de descanso para os que todos os dias se mostram incansáveis perante a pandemia que vivemos”. O objetivo passa por mobilizar as pessoas a acolher profissionais de ação médica nas proximidades de unidades de saúde.

TAIKAI

A start-up portuguesa TAIKAI, que coordena uma plataforma de inovação aberta, quer colocar investigadores, programadores, designers e pessoas com outras valências a colaborar para, em conjunto, criarem novas soluções tecnológicas que ajudem a gerir os problemas atuais que as entidades de saúde enfrentam, como a grande afluência aos serviços e às linhas de apoio, e que promovam a informação e consciencialização da população.

“Acreditamos que a colaboração aberta permitirá criar mais valor e de forma mais célere, pois permite criar equipas multidisciplinares que conseguem dar inputs de áreas diferentes que, no fim, acabam por se complementar e construir uma solução mais completa e robusta”, defende Mário Alves, fundador e director da TAIKAI.

O desafio da TAIKAI, lançado na sequência da iniciativa tech4COVID19, conta com o apoio de grandes empresas tecnológicas do panorama português, como HypeLabs, Infraspeak, Codavel, Zaask, AddVolt, B-Parts, Climber, Knock, Hijiffy, GoParity, entre outras.

A Tua Mesa

A Tua Mesa é um projecto destinado ao segmento da restauração, e surgiu da ideia de um grupo de colaboradores da agência Another Collective. “A ideia é que o movimento ganhe força e que os restaurantes consigam aproveitar a subsistir”, afirma Ricardo Barbosa ao Shifter.

Tudo começou pelo papel da agência no setor, visto que “muitos clientes são da área da restauração”. Ao longo da última semana, o grupo foi sentido que “os negócios se estavam a quebrar” e, por isso, tentaram criar uma forma de ajudar estas empresas. Ricardo explica que muitas delas são “negócios pequenos” e que é importante lembrar que existem “várias famílias que dependem daquele negócio e que sentem muitas dificuldades neste momento”.

Sendo assim, “a ideia é a de que os restaurantes, por si, tenham a capacidade de pensar como criar um voucher” e “recebam o dinheiro já, sob pena de os perdermos daqui a dois ou três meses”. No fundo, o novo movimento surge como um mote “para incentivar os clientes a pagar hoje pela comida da qual poderão desfrutar amanhã”. “O objetivo é fazer com que a economia não pare”, conclui.

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  • Gabriel Ribeiro

    Licenciado em Ciências da Comunicação e sempre com a câmara na mochila. Acredito que todos os locais e pessoas têm “aquela” história. Impulsionador da cultura portuguesa a tempo inteiro.

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