Petição pede o fim do Pornhub por “lucrar com vídeos de violação e abuso sexual”

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Foto de Marco Verch via Flickr (CC BY 2.0)

Petição pede o fim do Pornhub por “lucrar com vídeos de violação e abuso sexual”

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A iniciativa chama-se TrafickingHub, uma campanha criada pelo grupo cristão norte-americano Exodus Cry, para "responsabilizar os executivos do Pornhub por contribuírem para o tráfico e exploração em massa de mulheres e menores.".

Há menos de uma semana, o infame Pornhub foi notícia por ter lançado o seu primeiro vídeo sem sexo explícito — um documentário a cena dos clubes de strip queer de Los Angeles chamado Shakedown. O filme da realizadora e artista conceptual Leilah Weinraub valeu ao maior site pornográfico de acesso público uma aproximação algo prestigiada ao circuito da arte norte-americana e deixou o Pornhub nas bocas do mundo por estar, finalmente, a avançar no objectivo de diversificar o seu portefólio e expandir a sua audiência.

Esta semana, o site que no ano passado contou com mais de 42 mil milhões de visitas, vê-se de novo nas machetes por motivos menos nobres que os de ser uma plataforma que está a “apoiar as artes”.

Em causa está uma petição online com perto de 400 mil assinaturas que pede o fim do Pornhub e acusa o site de lucrar com vídeos de violação e abuso sexual. A iniciativa chama-se TrafickingHub, uma campanha criada pelo grupo cristão norte-americano Exodus Cry, para “responsabilizar os executivos do Pornhub por contribuírem para o tráfico e exploração em massa de mulheres e menores.”.

Laila Mickelwait, a criadora da campanha, afirma que “não se trata de ser anti-pornografia, mas sim de pôr um fim ao tráfico e abuso sexual de crianças” — embora o site da organização se refira à indústria do sexo comercial como “evil”.

As alegações feitas contra a Mindgeek, empresa proprietária do Pornhub, centram-se no rastreio deficiente que é feito aos mais de 6 milhões de vídeos publicados por ano no site, muitos de produtores amadores. “Esta é uma empresa que gera milhões em receitas de publicidade e subscrições e ainda não possui um sistema eficaz para verificar com segurança a idade ou o consentimento daqueles que aparecem no conteúdo pornográfico que divulga”, refere Mickelwait no texto que acompanha a petição.

A Mindgeek — legalmente sediada no Luxemburgo, mas com escritórios em Montreal, Londres, Nicósia e Los Angeles — nega as acusações feitas na petição, insistindo que tem procedimentos competentes para remover conteúdo ilegal. Em declarações ao The Guardian, os representantes da empresa referem que: “A Pornhub tem o compromisso constante de erradicar e combater conteúdo não consensual e material com menores de idade. Qualquer alegação em contrário é categórica e factualmente falsa.”

Mas vários assinantes da petição em causa insistem que as críticas ao site têm como base provas concretas de práticas inadequadas, referindo os muitos vídeos que mostram pornografia “extremamente grave e violenta”. Os ativistas alegam que isso, associado à alta prevalência de vídeos que promovem sexo com jovens adolescentes — “adolescente” (ou teen) é uma das categorias mais populares do site — mostra que é urgente saber com certeza se os vídeos são feitos de forma consensual.

A petição Change.org de Mickelwait cita vários casos já conhecidos e tratados pela imprensa, em que vídeos de abuso sexual acabaram publicados no site. Em outubro do ano passado, por exemplo, uma rapariga de 15 anos que desapareceu no estado da Flórida, EUA, foi encontrada depois de vídeos da sua violação terem sido colocados no Pornhub, entre outros sites. O site removeu o vídeo quando foi denunciado e o homem responsável pelo ataque está a aguardar julgamento.

O site também foi criticado por continuar a hospedar vídeos do canal de pornografia amador GirlsDoPorn — um canal que mostra raparigas na sua estreia em filmes para adultos — mesmo depois de um tribunal de San Diego, Califórnia, ter provado que vários dos seus vídeos foram conseguidos através de situações de abuso de poder e sexual, como as protagonistas não saberem que os vídeos iriam ser publicados, por exemplo. A página oficial do GirlsDoPorn só foi removida do Pornhub em Outubro, apesar de o tribunal ter começado as audições sobre o caso em Agosto. Vários vídeos da produtora hospedados noutros canais continuavam a ser encontrados no site meses depois. Os responsáveis pelo canal foram acusados formalmente. Dois estão actualmente sob custódia e enfrentam acusações criminais de tráfico sexual, enquanto um terceiro fugiu do país.

Uma investigação do The Times de novembro de 2019 constatou que o Pornhub está “inundado de conteúdo ilegal”, incluindo “cenas filmadas em segredo de alunas na escola e clipes de homens a praticar actos sexuais à frente de adolescentes no autocarro”. O jornal também alega que o Pornhub já recebeu imagens indecentes de crianças “a partir dos três anos de idade.”  Mickelwait diz que a Internet Watch Foundation “investigou e confirmou mais de 100 casos de crianças vítimas de abuso sexual no Pornhub”, acrescentando que “o abuso sexual de crianças é galopante porque o site permite que agressores, traficantes e violadores de menores façam upload de conteúdo de forma instantânea e anónima”.

Mickelwait aborda essa facilidade de upload na sua petição, escrevendo: “Tudo o que é necessário para fazer upload de pornografia no Pornhub é um endereço de email. Levei menos de 10 minutos a criar uma conta de usuário e a enviar conteúdo de teste em branco para o site, que foi ao ar instantaneamente.” Ela continua, explicando que foi capaz de obter a verificação de utilizador do Pornhub depois de simplesmente enviar uma fotografia sua a segurar um pedaço de papel com o nome de usuário escrito.

Esse processo de verificação rápida foi usado em casos de tráfego expostos no site. Como Mickelwait revela: “A conta oficial do Pornhub no Twitter admitiu que eles verificaram a rapariga de 15 anos raptada e violada (já referida em cima) em 58 vídeos enviados para o site. Logo após perceberem que o tinham admitido apagaram o tweet.”

O Pornhub insiste que trabalha com procedimentos “vigorosos” para impedir a publicação de conteúdo ilegal e defende o material publicado como fantasias legítimas protegidas pela liberdade de expressão.

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  • Rita Pinto

    A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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