Poderia a automação ajudar-nos a combater uma pandemia?

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Poderia a automação ajudar-nos a combater uma pandemia?

Nesta altura em que escrevemos e é pedido – à força do Estado de Emergência – a toda a gente que fique em casa a menos que trabalhe num dos sectores considerados essenciais à economia, pode reacender-se este debate, aproveitando para perceber que postos de trabalho ficam expostos ao perigo.

Tantas vezes falamos em automação, robô e humanóides mas poucas vezes conseguimos imaginar uma utilização concreta que fosse realmente útil à sociedade. Momentos como este que vivemos, de uma pandemia global, em que os serviços prestados por humanos estão reduzidos ao essencial para evitar contágio, abrem uma janela de oportunidade para pensarmos neste tópico com mais alguns dados em cima da mesa.

Nesta altura em que escrevemos e é pedido – à força do Estado de Emergência – a toda a gente que fique em casa a não ser que trabalhe num dos sectores considerados essenciais à economia, pode reacender-se este debate, aproveitando para perceber que postos de trabalho ficam expostos ao perigo e começando por aí a pensar na sua potencial substituição.

Da China chega a notícia de um braço mecânico que poderia substituir os responsáveis de saúde que têm conduzido testes reduzindo a exposição de equipas médicas a potenciais infetados numa primeira fase. Este robô lembra-nos aquele que já hoje se utiliza em cirurgia e caracteriza-se por uma precisão incrível, como podes ver aqui. O grande contra encontrado durante o processo de desenvolvimento foi o facto de os pacientes, em testes, poderem sentir um maior conforto na presença de um humano mas, pensando numa perspectiva de futuro e assegurando as pessoas da delicadeza do robô, esta questão poderia ser facilmente ultrapassada.

Por outro lado, também supermercados surgem como um dos pontos onde a presença humana é indispensável. Um particular que nos lembra, por exemplo, do conceito da Amazon que consiste num supermercado sem pessoas a trabalhar nas caixas registadoras, podendo diminuir em mais um sector a necessidade da presença humana (também por cá o Pingo Doce tem uma loja protótipo semelhante em teste na Universidade Nova de Lisboa); ou nos armazéns da gigante do e-commerce onde só circulam robôs capazes de recolher e despachar compras.

Tudo isto levanta, como é lógico, uma série de questões éticas, nomeadamente no que toca à possibilidade de as pessoas substituídas por robôs poderem ficar desempregadas. Contudo esta relação não tem de ser necessariamente directa, uma vez que havendo a mesma percentagem de transações, isto é, a mesma procura, as empresas poderiam ter a mesma disponibilidade para contratar e investir noutros sectores – algo que eventualmente poderia ter de ser regulado.

Outro ponto importante tem a ver com a centralização desta tecnologia, um dos grandes motivos por que muito possivelmente só daqui a algumas décadas esta realidade poderá ter alguma aplicação prática. Uma substituição abrupta de humanos por máquinas poderia conduzir ao cenário de desemprego e a uma concentração da riqueza entre aqueles com capacidade para investir neste tipo de tecnologia, mas essas questões poderiam ser resolvidas com um Rendimento Básico Universal e com a capacitação da actual força humana para, em vez de operar, ser capaz de programar os robôs que vão desempenhar as suas antigas funções.

Ainda assim, fazer um exercício de imaginação e estabelecimento de hipóteses deste género parece-me ser uma das grandes oportunidades para o desenvolvimento e a investigação no futuro próximo, respondendo a um problema que descobrimos ser mais real do que alguma vez pensámos.

Tempos de crise são sempre oportunidades de repensarmos a forma como a tecnologia serve o Homem, tal como o mostra a quantidade absurda de tecnologia que é desenvolvida em prol da guerra. Neste caso, o inimigo é outro e os estados podem não ter o mesmo foco que habitualmente os leva a investir em sistemas e programação; poderá então vir da sociedade e dos hackers uma resposta que conduza para um novo estado de organização, onde os mais vulneráveis possam mesmo em pressão ser salvaguardados.

Em face da resposta que temos visto da comunidade a esta pandemia, podemos inferir que neste futuro automatizado, os componentes dos robôs podiam ser materializados em impressoras 3D e o seu software facilmente disponibilizado em formato aberto, tornando-se acessível para um maior número de pessoas e a um preço mais reduzido.

Mais do que apontar com este artigo uma solução, aponto uma ideia para que todos possamos reflectir sobre o potencial que temos em mão e a forma como se unirmos esforços até cenários distópicos podem rapidamente configurar-se à nossa mercê. Para que não saíamos de mais uma crise com medidas mais restritivas de controlo das sociedades, nem virados para mais uma guerra para alavancar economias.

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  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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