Depois da polémica, gestão do ‘.org’ não vai passar para empresa com fins lucrativos

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Depois da polémica, gestão do ‘.org’ não vai passar para empresa com fins lucrativos

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Estava em cima da mesa da ICANN decidir se a Internet Society através da PIR podia vender o .org à Ethos Capital por 1,1 mil milhões de dólares, um negócio que permitiria a esta empresa lucrativa de gestão de investimentos gerir um domínio que representa o seu oposto.

A possibilidade de uma empresa lucrativa tomar conta do domínio .org, destinado a empresas sem fins lucrativos estava em cima da mesa desde o ano passado. Mas a direcção do ICANN rejeitou, esta semana, a proposta da Internet Society para vender o controlo do .org à empresa de investimento privado Ethos Capital por 1,1 mil milhões de dólares.

Vamos por partes. A ICANN é a sigla da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers, uma entidade sem fins lucrativos, subordinada ao Governo norte-americano, e responsável por assegurar as partes mais técnicas da internet, como os domínios base e protocolos que fazem (quase) tudo funcionar. Já a Internet Society é outra organização sem fins lucrativos norte-americana que procura facilitar e sustentar a evolução da internet enquanto um sistema aberto e que beneficia todos. A Internet Society (ou ISOC) é por sua vez detentora do Public Interest Registry (PIR), a responsável por domínios de interesse público como o .org, o .ngo e o .ong, todos destinados a organizações sem fins lucrativos.

Ora, estava em cima da mesa da ICANN decidir se a Internet Society através da PIR podia vender o .org à Ethos Capital por 1,1 mil milhões de dólares, um negócio que permitiria a esta empresa de gestão de investimentos gerir um domínio que representa o seu oposto. O negócio foi amplamente contestado por activistas digitais e gerou um debate político nos EUA, com senadores entre os quais a ex-candidata Elizabeth Warren a pedirem respostas sobre este eventual negócio.

Com o .org a ser gerido pela Ethos Capital, esta empresa ganhava acesso a cerca de 10,5 milhões de taxas anuais por causa dos domínios já registados com essa terminação. Segundo o New York Times (NYT), essas taxas são em média de 10 a 20 dólares, mas podem ser mais altas para grandes sites que registam múltiplos domínios para protegerem as suas marcas. O NYT relata ainda as preocupações de quem se opunha ao negócio: a Ethos Capital subir os preços do .org, vender dados dos utilizadores e poder silenciar vozes inconvenientes.

A Ethos Capital já tinha saído em sua defesa com o anúncio de um compromisso para manter os preços de venda de domínios .org acessíveis para novos registos ou renovações; de eleger um conselho de https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistração independente para o .org; e do lançamento de um fundo de 10 milhões de dólares para apoiar iniciativas em torno da comunidade. A empresa chegou mesmo a lançar um site – keypointsabout.org – para acalmar os opositores.

De acordo com o ICANN, foram revistas pela direcção “centenas de páginas de documentação e respostas”, a maioria a favor do negócio e foram ouvidas diversas vozes antes de tomar a sua decisão. No final da ponderação, o ICANN entendeu que a venda iria mudar “a natureza fundamental de interesse público do PIR para uma entidade que que atende aos interesses de seus stakeholders corporativos” e mostrou preocupações em relação à dívida de 360 milhões de dólares que a PIR tem e que seria suportada pela Ethos Capital [com o negócio, basicamente a PIR passaria a estar sob alçada da Ethos Capital e seria desta forma que esta empresa passaria a tomar conta do .org].

O futuro para o .org é ainda incerto mas quem se opôs ao negócio espera agora que a ICANN salvaguarde o controlo do .org entre mãos sem fins lucrativos. Vai ser ainda preciso reverter o processo de dívida de 360 milhões de dólares da PIR de volta aos acionistas.

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