Conferências virtuais, o novo normal ou mais um sintoma passageiro?

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Foto de Grant via Unsplash

Conferências virtuais, o novo normal ou mais um sintoma passageiro?

No futuro pós-pandémico poderemos contar com formatos híbridos em que a participação real e virtual se confundem.

Nas últimas semanas o número de conferências virtuais tem disparado um pouco por todo o mundo à medida que a indústria se adapta às regras de distanciamento social. Os novos formatos mostram sinais promissores de que é possível recriar algumas das interações humanas num contexto virtual, mas não passará a experiência virtual de um “nice-to-have” no mundo Pós-Covid?

A indústria das conferências tech e de negócio terá sido uma das primeiras a materializar o impacto da pandemia nas economias Europeias, quando em meados de Fevereiro foi anunciado o cancelamento do famoso Mobile World Congress.

O cancelamento do evento que este ano prometia trazer mais de 100.000 pessoas à cidade de Barcelona terá resultado em perdas avultadas na ordem dos 492 milhões de euros e na extinção de mais de 14.000 postos de trabalho temporário.

Desde então, as empresas organizadoras têm canalizado esforços no sentido de replicar virtualmente a experiência de participar numa conferência, convencendo empresas e participantes a trocar os grandes pavilhões pelo sofá lá de casa.

Plataformas de streaming como a On24, Vcast, Hopin ou Brella têm surgido como soluções end-to-end para o efeito – é possível aceder ao palco principal para ouvir apresentações e conversas, participar em workshops em “salas” secundárias, deambular entre bancas e expositores e até participar em momentos de networking em que as pessoas são conectadas de forma aleatória ou segundo grupos de interesse.

Re:Brand Couch Conference organizada pela The Next Web através da plataforma Hopin (screenshot de Muchammad Hidayat/Twitter)

Se à primeira vista as consequências para a economia parecem aterradoras – perdas nos setores da restauração, hotelaria e comércio local – a digitalização das conferências também trás consigo algumas vantagens.

Do ponto de vista ambiental, a pegada ecológica é reduzida em grande parte por via da diminuição do número de voos. Por outro lado, o número de pessoas que podem participar aumenta substancialmente porque a conferência deixa de estar limitada à lotação física dos espaços.

Existe ainda uma terceira vantagem associada à hiper personalização e interatividade. Como a experiência se desenrola virtualmente, a audiência consegue interagir com os speakers através de sondagens e perguntas em tempo real de forma simples. É também possível customizar programas e medir e avaliar com mais eficácia os níveis de interesse e envolvimento de cada participante, proporcionando uma experiência à medida de cada um.

Estas são algumas das características que contribuem para a democratização da acessibilidade a este tipo de eventos. Deixa de ser necessário ter que gastar centenas de euros em bilhetes, voos e hotéis para poder participar, além de se poupar bastante tempo.

E por cá, o que podemos esperar?

Apesar de ainda faltarem alguns meses para a Web Summit, muitas são as incertezas em relação à sua realização, que está dependente do surgimento (ou não) de uma segunda vaga do vírus. De qualquer das formas, Paddy Cosgrave, organizador do Web Summit, já garantiu que o certame vai acontecer.

O cancelamento da conferência de tecnologia que nos últimos anos tem atraído mais de 70 000 pessoas à cidade Lisboa e, que segundo o relatório do Gabinete de Estratégia e Estudos da Economia do Ministério da Economia teve em 2017 um impacto estimado em 180 milhões de euros, seria uma grande machadada para a economia Nacional.

Para já nenhuma alteração ao formato da conferência foi anunciado. No entanto, a organização que tem como marca distintiva a aposta na tecnologia desenvolvida in-house, parece estar pronta para responder à altura do cenário mais pessimista depois de já ter garantido a realização da conferência Collision, do qual também é organizadora. A conferência destinada ao mercado Norte Americano vai realizar-se no final do mês de Junho em formato 100% virtual através da utilização de uma plataforma própria – “Our conference, our software”.

Independentemente do formato adoptado este ano e tendo em conta o avultado investimento público que garante a permanência da Web Summit em Portugal até 2028, seria interessante ver a empresa a dar um passo no sentido de alargar o número de pessoas que têm acesso à conferência, por exemplo, possibilitando a participação virtual de forma gratuita ou com um valor simbólico a certas camadas da população, em linha com algumas iniciativas que já têm vindo a ser desenvolvidas em edições anteriores.

As conferências no período Pós-Covid

A digitalização das conferências é uma tendência que já se verificava antes da pandemia e, que tal como muitas outras, se intensificou nos últimos meses.

Se por um lado o distanciamento social veio abalar os modelos de negócio vigentes nesta indústria e reforçar o valor das interações humanas, por outro, tem servido como um grande laboratório para a criação e experimentação de novos formatos capazes de chegar a mais pessoas, a qualquer hora, em qualquer lugar.

Apesar de grandes players como o Slush, The Next Web e South Summit terem adiado por alguns meses as edições anuais das suas conferências, é expectável que a oferta de uma experiência virtual integrada seja cada vez mais central na estratégia de monetização destas empresas.

Assim, no futuro pós-pandémico poderemos contar com formatos híbridos em que a participação real e virtual se confundem. O próximo horizonte em vista é o das conferências em realidade virtual, mas esperemos que os incentivos sejam outros que não os de uma nova pandemia.

Texto de João Barbosa

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