Slave Voyages: o site que mostra a verdadeira da dimensão do tráfico de escravos

Procurar
Close this search box.
Embarcação portuguesa com 600 escravos a bordo, 1838. Imagem em domínio público

Slave Voyages: o site que mostra a verdadeira da dimensão do tráfico de escravos

A democracia precisa de quem pare para pensar.

Num ambiente mediático demasiado rápido e confuso, onde a reação imediata marca a ordem dos dias, o Shifter é uma publicação diferente. Se gostas do que fazemos subscreve a partir de 2€ e contribui para que tanto tu como quem não pode fazê-lo tenha acesso a conteúdo de qualidade e profundidade.

O teu contributo faz toda a diferença. Sabe mais aqui.

Num tweet que correu o mundo, um internauta fazia um ranking dos países com maior registo de viagens de tráfico de escravos, citando dados do projecto Slave Voyages, e, no cimo dessa lista, podia ver-se Portugal, apontado como responsável pelo tráfico de quase 4 milhões de escravos.

Slave Voyages é um projecto online existente há quase três décadas, que reúne de uma forma extensiva informação sobre as viagens de escravos que decorreram um pouco por todo o mundo durante a Era Colonial. No final de 2019 o projecto atravessou tempos conturbados pelos elevados custos de manutenção de uma base de dados tão extensa e apresentada de forma tão diversa. No total, desde 1992, já foram gastos mais de 3 milhões na gestão do projecto que, por sua vez, contém um manancial de informação com um valor difícil de calcular.

Slave Voyages resulta de vários anos de trabalho académico, tanto na Europa como em África ou nas Américas, do Sul e do Norte, dando origem a uma das bases de dados mais extensas e informativas sobre o período esclavagista. No site podem encontrar-se informações sobre quase 35 mil expedições de tráfico de escravos, ocorridas entre 1514 e 1886, resultantes da recolha de informação de arquivos e bibliotecas um pouco por todo o mundo. Assim, pode saber-se mais sobre as embarcações de transporte, os povos escravizados, os proprietários dos escravos, as rotas do seu comércio ou os países envolvidos.

Foi, de resto, essa informação que transformou esse site num pequeno viral. Num tweet que correu o mundo, um internauta fazia um ranking dos países com maior registo de viagens de tráfico de escravos e, no cimo dessa lista, podia ver-se Portugal, apontado como responsável pelo tráfico de quase 4 milhões de escravos. Os números são reais e referem-se ao total acumulado de escravos embarcados em navios com bandeira portuguesa durante os mais de 300 anos de exploração esclavagista.

Portugal, com mais de 3 milhões e 700 mil escravos transportados, essencialmente, para o Brasil destaca-se no topo dos países responsáveis pelo maior número de pessoas traficadas para outro país. Este número, por se referir a dados com mais de 400 anos, pode ter imprecisões mas põe em perspectiva o mito do esclavagista soft tantas vezes associado à exploração portuguesa. Quer seja por uma maior documentação permitir aferir um maior número de viagens, os números são claros colocando Portugal no topo desta lista. O principal destino dos escravos também é contemplado nesta base de dados, o que permite perceber que todo este tráfico servia sobretudo para fornecer mão-de-obra para o desenvolvimento do Brasil. Numa pesquisa mais intensa é possível mesmo consultar a informação sobre cada uma das viagens, sabendo-se até o nome do capitão de cada embarcação.

Na documentação dos dados, contudo, chama-se a atenção para o facto de alguns registos poderem ser forjados — havendo por exemplo embarcações registadas como sendo de outros países — mas, segundo consta, estes casos não representarão uma percentagem considerável na base de dados.

Neste site é possível perceber de onde vinham e para onde iam os escravos transportados pelos diferentes países negociantes, mas não só. Existe também um extenso registo gráfico com ilustrações das principais rotas de escravos, uma base de dados com o nome de mais de 90 mil africanos que terão sido alvo de escravatura e uma galeria com ilustrações da época, representantes desta realidade que na contemporaneidade tantas vezes nos negamos a assimilar.

Todo este material está partilhado com uma licença Creative Commons Attribution-Non-Commercial 3.0 e por isso pode ser utilizado para outros projectos sem fins comerciais, desde que seja feita uma atribuição à fonte original.

Índice

  • Shifter

    O Shifter é uma revista comunitária de pensamento interseccional. O Shifter é uma revista de reflexão e crítica sobre tecnologia, sociedade e cultura, criada em comunidade e apoiada por quem a lê.

Subscreve a newsletter e acompanha o que publicamos.

Eu concordo com os Termos & Condições *

Apoia o jornalismo e a reflexão a partir de 2€ e ajuda-nos a manter livres de publicidade e paywall.

Bem-vind@ ao novo site do Shifter! Esta é uma versão beta em que ainda estamos a fazer alguns ajustes.Partilha a tua opinião enviando email para comunidade@shifter.pt