O Instagram prefere nudez e o Google prefere “instagram nudez”… assim funcionam os algoritmos

O Instagram prefere nudez e o Google prefere “instagram nudez”… assim funcionam os algoritmos

Bastou ter a palavra-chave "Instagram nudez", por sinal muito vista, para disparar as visitas em 10 vezes, num dia da semana que até costuma ser relativamente calmo para o Shifter.

Muitas vezes tentamos explicar aos demais como funciona o universo das visitas online a um site noticioso, para que percebam porque nem sempre são os melhores trabalhos a ter mais visibilidade. Sucintamente a origem do tráfego divide-se em cinco grandes segmentos: o directo, que representa quem entra directamente no site; o social, que provém das redes sociais; o orgânico, que resulta das pesquisas em motores de busca como o Google; e o por referência, proveniente de agregadores de conteúdos como o SAPO ou o Google News; e o e-mail, aqueles que entram através das newsletters que enviamos.

Cada site tem a sua dinâmica própria; no caso do Shifter, as pesquisas no Google são uma importante fonte de tráfego, tal como o portal SAPO (rede da qual fazemos parte) e as redes sociais; o Google News também tem um peso considerável, apesar do seu carácter mais focado nas chamadas hard news. A fatia dos que acedem directamente ao Shifter, escrevendo o seu URL no browser, por exemplo, é mais baixa. Já o e-mail é muito residual, dado ser um canal pequeno e que só começámos a activar recentemente (ainda não assinas os nossos boletins?!).

O tráfego é, no geral, imprevisível. Sabemos que vamos ter de redes sociais se formos activos e entregarmos o conteúdo certo que os nossos seguidores procuram, e também se apostarmos em canais onde as pessoas estão, como as Instagram Stories (tens seguido o nosso Shift Diário? Dá-nos o teu feedback para comunidade@shifter.pt). Sabemos que conseguimos crescer o e-mail se enviarmos mais boletins e se esse se tornar um canal que a nossa comunidade passe a valorizar. Do tráfego por referência, o SAPO representa cerca de 60%, percentagem que varia consoante as escolhas editoriais da sua equipa, isto é, dos artigos que são colocados em destaque entre os milhares que todos os dias são publicados pelos parceiro. Já o Google News é imprevisível dado ser baseado em algoritmos e não em curadoria humana, tal como o tráfego orgânico proveniente de pesquisas no Google.

Os algoritmos são imprevisíveis e são ainda frustrantes. Apesar de existirem estratégias de SEO – que aplicamos no Shifter – para potenciar o alcance nos resultados de pesquisa e em plataformas automatizadas como o Google News, nunca sabemos que artigo vai ser o próximo hit nesta plataforma. Não o procuramos de uma forma abusiva, mas de vez em quando somos surpreendidos pelo seu poder. Foi o que aconteceu recentemente. Sentimos um pico absurdo de visitas no site, que se destacava claramente da normalidade do site e fomos verificar — chegámos a ter mais de 500 pessoas em tempo real durante esse dia, num só artigo. O artigo em questão, publicado no dia anterior, era uma simples análise do trabalho da AlgorithmWatch e abordava sobre uma investigação sobre se o algoritmo do Instagram prefere nudez.

Curiosamente, visto que falamos de preferências de algoritmos, o título, o tema e a palavra-chave combinadas terão feito desse conteúdo um sucesso entre os algoritmos e, pois claro, os utilizadores que foram entrando em catadupa no Shifter. Bastou ter a palavra-chave “Instagram nudez”, por sinal muito vista, para disparar as visitas em 10 vezes, num dia da semana que até costuma ser relativamente calmo para o Shifter por publicarmos menos conteúdo.

Na mesma sexta-feira e ao longo da semana publicámos outros conteúdos muito mais interessantes, pertinentes e até trabalhados, mas neste caso experienciámos o poder “editorial” subversivo dos algoritmos; é por casos como estes que se torna perigoso e desaconselhável deixar a moderação do espaço público entregue a algoritmos que desconhecemos, e acabam por alimentar perspectivas altamente populistas sobre o conteúdo criado – dando primazia a categorias como a nudez, marcas já bastante conhecidas ou outras palavras-chave sem qualquer critério subjectivo que não seja a quantidade de pessoas (seja de onde forem) a pesquisar.

Num jornalismo em parte ainda assente no modelo clássico da publicidade, casos como este são sintomáticos do motivo que leva títulos credíveis e conhecidos a embarcar por caminhos duvidosos em busca da keyword perfeita, afinal de contas estas são as regras, tácitas é certo, do jogo onde todos procuram dar o seu melhor enquanto garantem o mínimo essencial à sua sobrevivência.

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