Commonspoly: o ‘Monopólio’ invertido, para valorizar os bens comuns

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Commonspoly: o ‘Monopólio’ invertido, para valorizar os bens comuns

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No site oficial do jogo, que é de licença gratuita e pode ser descarregado online e impresso em casa, pode ler-se que o "Commonspoly é também uma tentativa de corrigir um equívoco comum que já dura há mais de um século.

Chama-se Commonspoly e o nome não engana. Trata-se de um jogo inspirado no popular Monopólio, mas que subverte as regras capitalistas do conhecido jogo de tabuleiro e enfatiza o valor dos bens comuns. Os jogadores são convidados a juntar esforços para desenha as regras de um mundo melhor, com base em recursos comuns – uma forma de refletirmos e experimentarmos de maneira lúdica as possibilidades e limites das formas cooperativas de convivência, como um discurso crítico para mudanças relevantes nas nossas sociedades.

No site oficial do jogo, que é de licença gratuita e pode ser descarregado online e impresso em casa, pode ler-se que o “Commonspoly é também uma tentativa de corrigir um equívoco comum que já dura há mais de um século. Em 1904, Elizabeth Magie patenteou The Landlord’s Game, um jogo de tabuleiro projetado para destacar os efeitos perigosos dos monopólios. Anos mais tarde, ela vendeu a patente para a empresa Parker Brothers, que transformou o jogo no Monopólio que conhecemos hoje: um jogo de tabuleiro que celebra a busca pela acumulação de enormes fortunas pessoais e a falência de qualquer pessoa menos nós próprios.”

O Commonspoly vira o Monopólio moderno de pernas para o ar e retorna ao princípio básico do jogo tradicional: imaginar um mundo viável baseado na cooperação em vez da competição. O objectivo é lutar contra os especuladores, correndo contra o tempo, num jogo em que a ajuda de cada jogador é necessária e bem vinda, pois só há uma forma de vencer: com entreajuda.

Onde no Monopólio temos ruas, avenidas e estações, no Commonspoly há os bens comuns urbanos, de saúde, ambientais e outros intangíveis. Em vez de comprares a Avenida de Roma, podes entrar numa cooperativa ou adquirir uma bicicleta. Ninguém pode ganhar ou perder individualmente. O principal objetivo deste Monopólio pirata é preservar os recursos comuns, e só podes fazer isso se colaborares com outros jogadores. Mas como se joga?

Objetivo principal

Imagina um mundo em que os recursos globais estão a ponto de ser totalmente privatizados, transformando todos os cidadãos em escravos de multinacionais. O(s) especulador(es) estão organizados e comprometidos com a privatização de todos os recursos disponíveis na sociedade: bens ambientais (quinta, zona costeira, floresta), urbanos (mercado, bilbioteca, skate park), de saúde (hospital, lar de idosos, piscina) e os tais intangíveis (bens que têm um impacto positivo na sociedade, mas não podem ser medidos fisicamente. Frequentemente relacionados com a partilha de conhecimento, como a escola, a universidade, ou o fab lab).

No Commonspoly, esta era está próxima mas ainda pode ser evitada, se todos os cidadãos agirem em conjunto. A estratégia deve ser construída em grupo para lutar contra um inimigo comum: crises financeiras, desemprego, mudanças climáticas. Como cidadão determinado a lutar contra a privatização de recursos, terás de cooperar com os outros jogadores para libertares o máximo de bens possível, transformando-os em bens públicos ou, melhor ainda, comuns, enquanto jogas contra o tempo. Tens apenas entre 10 e 20 jogadas antes que todos os recursos sejam privatizados.

Por enquanto, o Commonspoly existe apenas em inglês, mas a equipa garante estar a trabalhar para o deixar disponível noutras línguas – pedem até ajuda no site a quem quiser participar na tradução dos documentos. Porque vários aspectos da jogabilidade acabam por perder o sentido original com a tradução das expressões para português, para ficares a perceber melhor as regras e conteúdos do Commonspoly, o mais fácil é consultares o Glossário e restantes dicas.

Este Monopólio anti-capitalista foi inventado num hackcamp em 2015 pelo coletivo espanhol ZEMOS98, uma organização sem fins lucrativos. Além de poderes fazer download de todos os arquivos imprimíveis do Commonspoly no site oficial para que possas imprimi-los gratuitamente em casa – tendo como base a filosofia de código aberto do projecto -, é possível comprar o jogo e pedir o seu envio para casa. Como se pode ler no site, “todas as receitas produzidas pelo jogo são para cobrir os custos de produção e impressão de 1.000 cópias e para o aprimoramento do jogo. Ao comprar o jogo Commonspoly, estás a apoiar uma organização pequena, mas realmente social e politicamente comprometida.” 

Índice

  • Rita Pinto

    A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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