Maioria das empresas que mais consomem floresta não falam sobre isso

Foto de Janusz Maniak via Unsplash

Maioria das empresas que mais consomem floresta não falam sobre isso

Relatório adianta que cerca de 450 empresas e mais de 50 governos se comprometeram em acabar com a desflorestação até 2020, mas que muitas empresas já admitiram que o prazo não será cumprido.

Uma organização britânica chamada CDP – Carbon Disclosure Project –, cujo intuito é esmiuçar o impacto ambiental das grandes empresas, perguntou a 1500 dessas companhias qual o seu impacto nas florestas e o que estão a fazer para diminuir essa pegada. 70% das firmas contactadas não respondeu e, das 306 que divulgaram dados, 24% mostraram pouco ou nada fazem para reduzir a desflorestação do planeta.

O relatório da CDP, que pode ser consultado aqui e que tem como referência o ano de 2018, centra-se nas 306 empresas que divulgaram aos seus investidores ou parceiros de negócio informação sobre a sua relação com a floresta, incluindo sobre quatro tópicos críticos em termos de risco florestal: madeira, óleo de palma, pecuária e soja. Entre as 306 companhias, estão algumas das maiores produtoras do mundo, grupos ligados ao sector agrícola e alimentar, bem como ao mundo do retalho e dos serviços; além disso, 202 dessas empresas estão listados em bolsa, com um valor superior a 4 biliões de dólares, conforme nota a CDP.

Imagem via CDP

Para esta organização sem fins lucrativos britânicas, partilhar dados sobre o impacto na desfloração é uma questão de transparência, importante não só a nível corporativo mas também para o ambiente. A massa empresarial contribuiu largamente para perda de mais de 3,6 milhões de hectares de floresta no ano passado, à medida que árvores foram cortadas para retirar madeira, soja e óleo de palma, ou para abrir caminho para gado.

Entre as empresas que não divulgaram a sua pegada nas florestas está, como aponta a publicação Fast Company, a Mondelez, a gigante alimentar por detrás de marcas como a Oreo e que utiliza bastante óleo de palma nos produtos que fabrica, ou a IKEA, que de acordo com o seu próprio relatório de sustentabilidade recorreu 18 milhões de metros quadrados de madeira em 2018, tendo já se comprometido a aumentar o uso de madeira de fontes sustentáveis. Também não responderam à CDP a marca de vestuário Gap, a cadeia de supermercados Auchan ou a empresa alimentar Parmalat – de acordo com a CDP, algumas destas e de outras firmas ignoraram os seus pedidos também nos últimos três anos.

Imagem via CDP

Mas das 306 empresas que foram transparentes em relação à desflorestação, 1/4 admitiu que pouco estava a fazer para limitar o desmatamento e mais de 1/3 também não está a fazer em conjunto com os seus fornecedores para mitigar o problema ambiental. Além disso, só 1/4 relatou riscos de perdas devido à desflorestação e quase 1/3 nem sequer incluiu questões relacionadas com a floresta nas suas avaliações de risco.

A CDP reconhece, contudo, os esforços de apenas sete empresas no que toca à desflorestação: entre elas, está a francesa L’Oréal, alemã Beiersdorf AG ou a suíça Tetra Pak. A L’Oréal, por exemplo, tem uma política de zero desflorestação e já reconheceu que a má gestão das florestas ao longo da sua cadeia de fornecedores pode ter impactos negativos na sua marca, arriscando mais de 180 milhões de dólares. Na Europa, 87% dos consumidores procuram produtos com impacto zero na desflorestação, segundo refere a Fast Company.

De acordo com a CDP, as empresas não podem ignorar os impactos que os seus negócios, incluindo as cadeias de fornecedores, têm nas florestas, nem os riscos disso para os próprios negócios e para o mundo. As empresas que queiram manter a participação no mercado têm de estar atentas às reacções dos clientes, dos investidores e dos consumidores, cada vez mais atentos ao consumo sustentável.

A CDP adianta que cerca de 450 empresas e mais de 50 governos se comprometeram em acabar com a desflorestação até 2020, mas que muitas empresas já admitiram que o prazo não será cumprido. Foi o caso do grupo agrícola e alimentar norte-americano Cargill, que no mês passado disse que a ele e a sua indústria de uma forma geral não vai conseguir alcançar tal meta até àquele ano. A desflorestação tem impactos negativos incalculáveis nas alterações climáticas, provocando não só a emissão de dióxido de carbono mas tornando também a sua absorção mais difícil; os impactos são negativos também ao nível da vida selvagem e não só.

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