BMW quer subscrição por bancos aquecidos – o automóvel como o telemóvel

Imagem via BMW/divulgação

BMW quer subscrição por bancos aquecidos – o automóvel como o telemóvel

A BMW vai começar a actualizar o software dos automóveis a partir deste mês, com actualizações que podem ter aproximadamente 1 GB e demorar cerca de 20 minutos a instalar.

Durante muitos anos um carro era… um carro. Depois passou a ter software, mais tarde conectividade à internet e recentemente esse software passou a ser controlado remotamente. A norte-americana Tesla é a fabricante que mais tem desenvolvido esta ideia de hardware e software conectado aplicada ao automóvel, com a empresa a conseguir activar e desactivar funcionalidades nos veículos que comercializa à distância. Outras fabricantes estão agora a entrar no mesmo jogo de ver o “automóvel como uma plataforma”.

A alemã BMW é um desses casos, e agora quer transformar os habituais extras de um carro, em actualizações de software que podem ser subscritas mais tarde. Imagine-se que uma pessoa com um veículo BMW decide mais tarde ter os bancos aquecidos; pode, neste caso, subscrever esse extra por três meses – através do software e sem ter de ir a uma oficina; passados os três meses, o utilizador é notificado para que possa renovar a subscrição.

No passado já vimos a Tesla lançar actualizações de software que adicionam novas funcionalidades aos veículos que os consumidores já têm e usam, activando ou desactivando o recurso de auto-piloto ou tornando possível o uso de uma câmara que já existia na cabine do veículo. A Tesla também costuma lançar actualizações de software localizadas, permitindo que determinadas funcionalidades estejam disponíveis somente em algumas regiões primeiro antes de serem alargadas globalmente.

Software Livre de fonte aberta num mundo fechado

A BMW vai começar a actualizar o software dos automóveis a partir deste mês, com actualizações que podem ter aproximadamente 1 GB e demorar cerca de 20 minutos a instalar; os primeiros veículos a recebê-las serão os carros com a versão 7 do sistema operativo da BMW. A intenção da marca é tornar essas actualizações mais frequentes e também, como já referido, e transformar os extras em opções que os consumidores podem activar e desactivar no software, desde faróis automáticos a bancos aquecidos, passando pelo sistema de cruise control adaptativo (AAC), que auxilia os condutores na condução do seu veículo na estrada.

Esta separação do software e do hardware num automóvel já existe noutros equipamentos comuns no dia-a-dia, como o telemóvel ou o computador, em que as actualizações de software disponibilizadas pelas empresas ao longo do tempo de vida útil desses equipamentos vão adicionando mais funcionalidade. Por exemplo, o recém-anunciado iOS 14 vai dar a qualquer iPhone um novo atalho através do triplo toque na parte traseira do equipamento – o hardware já o permitia, agora o software desbloqueia. Por outras palavras, coisas que um veículo já tem podem ganhar uma nova vida através somente de uma actualização de software.

Uma história sobre software proprietário à boleia de um Tesla

Por outro lado, ao tornar os extras adquiríveis posteriormente ao momento da compra de um automóvel através de software, uma pessoa que compre um carro usado pode adicionar-lhe funcionalidades que o anterior dono não queria. Há uma questão importante neste campo: as empresas vão atribuir o software ao carro ou ao utilizador? Isto é: se uma pessoa vender o seu veículo vai ficar com os extras e o software que adquiriu para usar noutro carro novo que compre, ou esse software fica no automóvel antigo para o próximo dono? A BMW diz que o software é do carro, não do utilizador; já a Tesla foi há bem pouco tempo criticada por ter desactivado remotamente o auto-piloto num automóvel usado.

Em suma, o carro caminha para ficar mais parecido com o telemóvel – sujeito a uma espécie de contrato de fidelização, uma subscrição. Com actualizações de software frequentes e compras integradas de extras, aplicações e funcionalidades. Passa a ser mais um elemento conectado às nossas vidas digitais, mais um local onde podem haver subscrições, mais um ponto dominado por software proprietário. Vejamos: o nosso telemóvel já tem um conjunto de serviços e subscrições que nos dissuadem a largar esse telemóvel ou a trocar por outro de outro sistema operativo. As fabricantes automóveis como a BMW e a Tesla parecem querer adoptar a mesma estratégia.

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